terça-feira, junho 28, 2005

A indústria do tráfico cultiva medo


O Brasil segue o modelo de política anti-drogas estadunidense desde o começo do século XX. Neste século que se passou, o problema das drogas, que antes era simplesmente um problema de saúde, começou a virar um problema criminal, um caso de polícia.

No começo do século passado a maconha era encarada pela sociedade conservadora dos Estados Unidos como uma erva do diabo, que corrompia os valores bons e levava para a criminalidade. Os países da América seguiram a proibição estadunidense. Nem discutiram a questão. Se os EUA falaram, está falado.

O tempo passou, chegaram os anos 60... Muitos fumavam maconha e tomavam ácido. Era uma maneira de confrontar a sociedade, era a contracultura. Na Europa, entenderam que não havia sentido em proibir uma droga leve (maconha) e liberar outras pesadas (álcool e cigarro). A Holanda se adiantou às demais e liberou todas as drogas. Lá é assim: ao usar drogas você prejudica a apenas você. Quem não gosta não usa.

O Brasil ainda segue os EUA e paga caro por isso. No Brasil, o índice de homicídios com armas de fogo é de um país em guerra. Esta guerra é a do tráfico, do poder paralelo que ele gera. Quantas pessoas marginalizadas não têm perspectiva nenhuma a não ser entrar no tráfico, ganhar respeito, poder e dinheiro. Este tráfico que gera mortes e mais mortes não abre os olhos dos governantes. Preferem culpar os usuários e se isentar de
qualquer responsabilidade?

O álcool e o cigarro causam maior dependência química que a da cocaína e matam mais que qualquer coisa. Entretanto, podemos ver todo dia na televisão propagandas de cerveja com mulheres lindíssimas e saudáveis. O detalhe é que, logo depois desta propaganda vem uma outra propaganda contra as drogas ‘ilegais’. A novela das oito faz apologia contra as drogas em uma cena e na outra aparece a Vera Ficher enchendo a cara de champanhe. Que hipocrisia!

Ao seguir o modelo estadunidense de combate às drogas, o Brasil cultiva uma indústria de guerra nos morros. Cultiva o medo. Usuários de maconha apanham quando são pegos fumando ao passo que o bêbado pode usar a sua droga tranqüilamente nos botecos. O Brasil cultiva hipocrisia.

A solução para o fim da guerra nos morros, a solução para o fim da guerra do tráfico, a solução para o fim do tráfico é a legalização das drogas, seguido de uma forte campanha de conscientização. Você usa droga e se prejudica. Os outros não tem nada a sua escolha. Cada um na sua, respeitando o próximo.

Infelizmente, porém, o Brasil ainda tem o rabo preso com os EUA. Será que não está na hora de seguir o modelo europeu?