quinta-feira, junho 30, 2005

E Robinho vai embora...

Só no Brasil mesmo que acontece isso. O melhor jogador de futebol que atua no Brasil vai para a Europa porque aqui ele não tem segurança. Só no Brasil um ídolo das crianças tem a mãe seqüestrada e o pai ameaçado. O Brasil é um país de medíocres, e o lugar de um fora-de-série só pode ser a Europa

Robinho brilhou com a camisa do Santos. Levantou a auto-estima da torcida, conquistou títulos, cativou novos torcedores, foi um craque brasileiro que atuava nos gramados tupiniquins. E como era importante, não apenas para o Santos como para o futebol brasileiro em geral, um craque que atuasse no Brasil e não lá fora.
O Brasil é como uma grande várzea. Os jogadores surgem com o talento que só os brasileiros têm, jogam por amor até aparecer uma bolada de verdinhas. Aí eles vão embora, nem que seja para ir para Ucrânia, Kuait, Iêmen...

Robinho foi um fenômeno no Brasil. Assim como Pelé, cansou de bater no Corinthians, sua presa favorita. Pedalou, chapelou, fuzilou goleiros adversários... E agora vai para o Real Madrid... Só acreditei que ele ia
embora quando ouvi as palavras de sua própria boca.

Robinho tem tudo para arrebentar ma Europa e ser o melhor do mundo. Sua carreira será vitoriosa. Mas como será o futuro do alvinegro da Vila Belmiro? Novo jejum? Espero que não. Que o Santos trilhe o caminho vitorioso que aquela geração de 2002 recomeçou.

Chora, Argentina!!


Brasil e Argentina já cansaram de se enfrentar em jogos decisivos, mas nunca tinham disputado a final de um campeonato chancelado pela FIFA. Nunca tinham disputado um título fora da América. Até ontem. Como sempre, o Brasil fez história.

A rivalidade que existe entre nós e nossos 'hermanos' nunca esteve tão acirrada. Com um time reserva, batemos os rivais e faturamos a Copa América. Isso não foi nada bom para o orgulho deles. Levantaram o nariz e esperaram a revanche. Como nas Eliminatórias tudo ficou na igualdade, restou a Copa das Confederações.

O detalhe é que a Argentina se classificou de 'lambuja' para este torneio. O Brasil foi campeão mundial e sul-americano, e a Argentina ocupou uma vaga por ter sido vice da América. Só deles terem ido para a Alemanha já foi uma conquista.

Na dia 29 de junho de 2005, uma quarta-feira, as duas seleções se enfileiraram no gramado impecável do moderno estádio de Frankfurt. O Brasil vinha sem Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo. A Argentina tinha seus desfalques, mas nenhum deles chegavam ao nível dos nossos craques.

Com dezesseis minutos, o Brasil já havia dado dois chutes de fora da área. A Argentina ainda não tinha feito nada. Os chutes de Adriano e Kaká tiveram endereço certo: o barbante. O jogo que era para ser duríssimo estava uma moleza.

Começa o segundo tempo, Cicinho está impecável nos cruzamentos. Ele joga duas vezes a bola na área. Ronaldinho e Adriano estavam lá para conferir: 4 x 0. Robinho ainda havia disparado uma bomba na trave. Que humilhação! Para não ficar tão feio, Aimar descontou. E o jogo foi caminhando para o fim.

Fim de jogo. Os jogadores começam a armar o pagode no gramado. Com vocês Robinho do Pandeiro, Maicon do Rebolo e Ronaldinho Tamborim... Os argentinos só olhavam. Será que eles iriam armar um tango no gramado se tivessem ganho?

Ronaldinho levanta a taça. É a conquista da tríplice coroa: Copa do Mundo, Copa América e Copa das Confederações. Para a Argentina sobrou os campeonatos juniores, sub-23, e por aí vai. O pior é que eles não aprendem nunca pois quando viram profissionais só tomam fumo.

________

Brasil e Argentina ainda se enfrentaram duas vezes esta semana. Na terça, os juniores argentinos derrotaram os nossos por 2 x 1 no Mundial da Holanda (com Bobô e Tardelli fica difícil). Na quarta a noite, a equipe do São Paulo derrotou o River Plate em pleno Monumental de Nuñez e conseguiu uma brilhante classificação para a final da Libertadores.

quarta-feira, junho 29, 2005

Domingo de futebol


O jogador entra em campo
Olha para as arquibancadas: lotadas
Sente o grito da galera
Sente a emoção do povo
Vai começar de novo
Mais uma partida de futebol
Neste lindo domingo de sol
Rola a bola, a torcida vibra
O atacante parte em disparada
A bola para ele é lançada
Um drible, uma explosão
Uma enfiada na medida
Levanta-se a torcida
O ponta avança, cruza a bola
O centroavante se lança e testa
É gol
A arquibancada treme
Desconhecidos se abraçam
Numa só emoção
Enquanto a bola morre no fundo da rede
Mais um torcedor vibra com esta paixão

Estados Unidos da Perdição


Exportadores de enlatados e porcarias
Infectam o mundo com asneira
Gostam de se impor pela guerra
Onde passam, deixam lama e sujeira
Exportadores de cultura e de bombas
Pensam que mandam e e que são os donos
Acreditam ser a polícia, o juiz e o carcereiro
Vivem guerreando e matando, de janeiro a janeiro
Cuba, Nicarágua, Haiti, Iraque e Afeganistão
Colômbia, Somália, Arábia e Panamá
Onde quer que haja alguma riqueza, lá eles estão
Porque o que der para tirar, eles irão arrancar
Pobre país que tem um governante tão burro
Pobre povo que gosta de guerra e de massacres
Estadunidenses, odiados mundo afora
Tudo por causa da inércia, da pouca vontade
Conformismo, fruto do capitalismo
Esquecem da dor dos oprimidos que no coração mora
Esquecem do pranto de quem tudo perdeu
Família, amigos, casa, vontade de prosseguir
Que sentido há em perambular sem ter para onde ir
E qual a razão de viver sem prazer
Ah, se os ianques soubessem disso
Que a riqueza e ostentação deles é o martírio dos outros
Não prosseguiriam
Mas sabe-se que eles não ligam
E que fome e pobreza são culpa nossa
E que somos culpados pela nossa fossa
América suja
Por causa destes irmãos que não honram a solidariedade e a humildade
Características tão nossas e de toda a latinidade
Preferem seguir, esses americanos, martirizando e matando
E a nós resta seguir, chorando, lamentando, cantando.

A preciosa mercadoria chamada sexo


Assistimos, hoje, a uma grande banalização do sexo. Tudo o que antes o envolvia, como amor, relações familiares, fidelidade e comprometimento, perdeu o valor. Hoje o sexo está independente de tudo isso. O sexo tornou-se uma mercadoria.

Com a crise dos valores morais ocidentais, ele passou a ter outra dimensão e outra importância. Passou a mostrar quem é quem. Se você tem uma vida sexualmente ativa, você é bom, você pode tudo. Porém, se você não tem uma vida sexual, você não pertence ao círculo dos ‘bacanas’. O sexo perdeu o seu sentido místico de união amorosa e passou a ser um mero instrumento de prazer.

Hoje em dia, tudo está relacionado a ele. Para se vender cerveja, é necessário colocar umas loiras na propaganda; para promover algum evento, utiliza-se uma linda mulher (mesmo que seja burra como um porta). Assim funciona o mundo. O sexo se banalizou. Décadas atrás, o que imperava era a moral católica. A família era uma instituição sagrada. Com o mundo caótico de hoje, cada vez mais individualista, esta moral já não tem tanto peso. Nem a família.

Nesta era capitalista, cada um tem de garantir o seu. Com o sexo não foi diferente. Todos buscam prazer. Afinal, como agüentar um mundo tão desigual, tão cheio de artimanhas?

Esse aspecto mercadológico permeia tudo. O sexo não só tornou-se uma mercadoria, como já é, há tempos, uma indústria. A prostituição gera, desde tempos imemoriais, muito dinheiro em todos os rincões do mundo. Além da ‘profissão mais antiga do mundo’, a pornografia é um ramo que gera muito, mas muito dinheiro.

O sexo já tinha este caráter ‘vendável’ antes. A diferença é que hoje ele não só é ‘vendável’, é trivial. Pornografia sempre existiu, mulher pelada na TV de domingo a tarde, não.

O cúmulo desta banalização sexual são as meninas de 5 ou 6 anos que imitam a Carla Perez no programa do Gugu. O que será destas meninas? O que será desta sociedade?

O mundo tem jeito?

O século XXI começou desastrosamente. Era de se esperara que, após tanto sangue derramado no século passado, a humanidade buscaria um pouco de paz. Ledo engano. A guerra contra o terrorismo, liderada (como 99% das guerras) pelos EUA é a principal marca deste novo século. E quem agüenta mais guerra? Será que os americanos que apóiam Bush gostam de genocídio? Será que eles gostam de perder filhos e maridos na guerra? Será que não têm um mínimo de amor no coração?

Quanto dinheiro já foi gasto neste mundo com as guerras? Muito mais do que com investimentos em educação, saúde, cultura... A AIDS é uma doença que cada vez infecta e mata mais gente, sobretudo na África e nos países miseráveis da Ásia. A fome se espalha pelo globo e um número gigantesco de pessoas não sabe ler nem escrever. Muitos nunca freqüentaram os bancos escolares e provavelmente não irão freqüentar. A miséria torna o mundo cruel e gera criminosos que precisam de qualquer maneira dinheiro para comer. E os EUA ficam com todas estas preocupações bélicas...

A industria da guerra é a que mais movimenta dinheiro no mundo. Em seguida vem a industria das drogas (que gera um poder paralelo enorme, além de gerar lucros fabulosos para os barões). Os maiores culpados por estes números são os Estados Unidos da América. O presidente deste país tem muitos interesses ao redor do mundo. A economia do país dele tem de estar sempre aquecida e para isso deve buscar mercados externos, seja através da diplomacia ou através da guerra.

O Iraque, que sofre com as armas de destruição em massa dos EUA, que o diga. Possuidor de uma vasta reserva petrolífera, foi subjugado aos interesses estadunidenses. O povo se libertou de uma ditadura sangrenta para cair em uma guerra mais sangrenta ainda. E o que é pior, comandada por um asno, um sujeito muito burro mesmo, uma marionete comandada por velhas raposas da política ianque. Raposas estas ligadas às indústrias bélica e petrolífera (fundamentais na fraude de 2000).

O problema é que o povo estadunidense, único capaz de reverter esta situação, não tem um pingo de vontade de mudar isto, visto que os jovens não se interessam por política e que o índice de abstenção chega aos 50%. Se um dia os cidadãos da ‘América’ (e nós? Não somos americanos?) tomarem vergonha na cara e fizerem uma revolução, o mundo estará salvo dessas amarras do Império. E somente assim será feita a revolução mundial.

Revolução da meditação

E a revolução não deverá ser feita com armas. Todos já viram que este método é um método fracassado. Morte e sangue nunca gerarão uma sociedade equilibrada. Pelo contrário, gerará contra-revoluções, conspirações, e sabotagens. Apenas com uma mudança de energia, através da meditação, isso será consolidado. É a revolução da meditação.

Como a sociedade espera mudar algo se as pessoas se odeiam, têm rancor, são desequilibradas? Como equilibrar o mundo sendo desequilibrado? Como fazer um mundo melhor com raiva? Impossível. Tudo, incluindo a busca por novos ideais, deve ser feito com amor. O amor é o sentimento mais nobre da humanidade e somente através dele se fará um mundo melhor.

Somente quando as pessoas atingirem um outro estado de consciência, a estrutura da nossa sociedade irá mudar. E para isso, é necessário que as pessoas se alimentem, estudem, tenham saúde e cultura. Afinal, como meditar de barriga vazia, sem saber ler nem escrever e com a saúde precária?

É preciso mudar o foco, trocar de óculos. Chega de mirar o capital, o luxo, a ostentação. É hora de parar de olhar para fora e começar a olhar para dentro. É hora de enxergar o mundo através do seu interior. É difícil, mas está na hora de tentarmos. O mundo não suporta mais tanta barbárie.

As outras revoluções

Nenhuma revolução fez com que a população atingisse um estado de consciência adequada para ser realizada a revolução do bem-estar social. Cuba começou a seguir o caminho: acabou com a fome e com o analfabetismo. Deu saúde, cultura, esportes, enfim, condições para que o povo cubano se desenvolvesse. Faltou mudar a maneira de encarar a vida. Faltou um acompanhamento espiritual.

Os cubanos, com todas as condições para que realizassem a revolução da meditação, preferiram mirar suas forças no rancor aos estadunidenses. Ao invés de se interiorizarem, preferiram começar a achar defeitos no socialismo. Ao invés de meditarem, começaram a achar ruim ter um só sabonete.

Conforme foi se deteriorando o regime fidelista, graças ao embargo e a propaganda anti-comunista dos EUA, o povo foi dando mais valor para o capital e menos para outras coisas fundamentais. A longa ditadura, aliada a longos anos de privação (embargo) minou a auto-estima cubana. E é difícil tomar consciência de que o caminho da bem-aventurança é o caminho da espiritualidade, da meditação. Nada chega em Cuba. O governo, ao fechar as portas para propagandas externas, fecha as portas para a revolução da meditação, começada pelo mestre espiritual, grande sábio, Swami Muktananda.

Podemos citar tantas outras revoluções, triunfantes (?) e fracassadas: russa, alemã, dos Cravos, chinesa, etc. Faltaram muitos elementos como a utilização de tecnologias de ponta, o desenvolvimento social da população, a conscientização de que uma nova ordem estaria sendo instaurada.

A tecnologia

É errado dizer que a tecnologia é um instrumento da exploração. Ela também pode ser uma ferramenta para a emancipação. O modo em que ela é conduzida é que é o grande mal.

Dominada pelos países centrais do capitalismo, a tecnologia é um importante tentáculo do imperialismo. Através dela, os países periféricos ficam subordinados e sem possibilidade de se desenvolverem. Se tivessem a possibilidade de utilizar uma tecnologia de ponta, a emancipação política e social aconteceria mais cedo ou mais tarde.

Os países mais ricos monopolizam o desenvolvimento de novas tecnologias para não correrem o risco de perderem o domínio que exercem sobre os países mais pobres. Com isso, se perpetua a ignorância. Os brasileiros seguem consumindo culturas estrangeiras enlatadas. Seguem sem uma identidade nacional forte. Seguem precisando importar tudo, sem desenvolver sua própria emancipação.

A cultura

A necessidade de se desenvolver tecnologias brasileiras se refletem no desenvolvimento intelectual e cultural da nação. Uma nação que é tapada por causa da inundação de asneira que vem de fora. Um país que depende da boa vontade dos poderosos para poder desenvolver seus próprios projetos. Os brasileiros crescem querendo ir para os ‘Steits’ e ficar rico. Não dão valor para o maravilhoso país que é o Brasil.

É difícil de acreditar, mas as pessoas não dão o devido valor a este país sensacional. Nossa cultura foi inundada por lixo e mais lixo. Quantos brasileiros sabem o que foi o lundu, o maxixe, o cateretê, os ranchos carnavalescos? Poucos. Mas todos sabem quem é a Madonna e o Michael Jackson. Quantos conhecem as poesias de Cartola, Nelson Cavaquinho e Candeia? Poucos. Mas o Bonde do Tigrão e o Tchan estão na boca do povo. Lamentável.

É necessário valorizar, urgentemente, nossas tradições. É preciso acabar com esta "síndrome de vira-lata". O que é feito no Brasil é muito bom. A nossa música é a melhor do mundo e precisa vir produtor japonês para produzir disco de sambista do morro. Nossos artistas precisam ir para o exterior para terem o devido
reconhecimento.

É inadmissível que nossas rádios toquem tanta merda. É praticamente só porcaria. É raro ouvir música de qualidade, seja brasileira ou não. A televisão está repleta de baixaria. O que esperar de um brasileiro que tem a televisão como educador? No mínimo, ignorância.

E o que esperar da classe média? E dos ricos? Mais lixo. O lixo impera em nossa sociedade. Existem exceções. Existe gente boa. Mas são tão poucos... Uma ilha de decência em um mar de estupidez.

A educação

O melhor caminho para diminuir a desigualdade social e a pobreza é o investimento na educação. Todas as pessoas devem ter as mesmas condições para lutar por um lugar ao sol neste país tão duro. Se todos os brasileiros tivessem educação de qualidade, todos poderiam ter uma vida mais digna. Em igualdade de condições, muito mais gente teria uma formação decente. E muito mais gente poderia desenvolver o Brasil e
fazer dele um país mais justo.

O menino que mora na favela iria para uma escola boa. Lá, ele teria um ensino bom, praticaria esportes, aprenderia música, aprenderia informática, almoçaria uma refeição bem balanceada e voltaria para casa, já tardinha, feliz. Por anos a fio, esta criança se desenvolveria. E quando terminasse o ensino fundamental, estaria apto para entrar em uma boa universidade.

Este deve ser o caminho para as pessoas carentes chegarem à universidade. Leva muito tempo para dar resultado, mas acredito ser a escolha correta para diminuir a desigualdade social.

A corrupção

Um dos maiores problemas do Brasil é a corrupção. E não estou falando dos desvios de verba gigantescos realizados por políticos e empresários. Este é um problema que atinge a (quase) todos que chegam ao poder. O principal problema é a forma que a corrupção está impregnado no modo de viver do brasileiro. Em nenhum outro lugar do mundo, ser malandro é tão legal. No Brasil, quem é honesto é trouxa.

A corrupção começa na escola. O aluno que cola, sem saber está se corrompendo. E cresce levando a vida com o "jeitinho brasileiro". Tudo se dá um jeito, não existe problema para quem pode pagar uma propina. Em qualquer situação existe corrupção. A propina é a mola propulsora do desenvolvimento nacional. É triste, mas é a realidade.

Enquanto esta safadeza for normal, o Brasil vai ser este país de vira-latas. Enquanto o honesto for trouxa, os brasileiros seguirão está vidinha sem-vergonha de muita miséria para poucos magnatas.

Futuro do país

É inconcebível que pessoas passem fome enquanto há comida estragando. É um absurdo que pessoas não tenham onde morar enquanto casas e apartamentos ficam vazios. É ridículo existir latifúndios improdutivos e gente precisando da terra para viver. É revoltante saber que existe gente com apartamento em Miami, Jaguar na garagem e uísque 18 anos na mesa ao passo que muitos não têm absolutamente NADA. É repugnante esta sociedade capitalista tão injusta e cruel.

O Brasil, para sair deste buraco, deve mudar muita coisa. Extinguir a cultura de corrupção, investir maciçamente na educação, dar condições de moradia para quem vive de maneira indecente e desenvolver um sistema de saúde pública melhor. Isto é só o começo. Na verdade existem as amarras com FMI, Banco Mundial, existe a dívida externa impagável, existe o coronelismo nos rincões do Brasil, existe muita coisa que a curto e médio prazo, impossibilita um desenvolvimento igualitário no Brasil.

A solução a curto prazo é só uma: meditar. Porque quanto mais gente meditar, melhor será a energia do mundo. Quem sabe as pessoas comecem a praticar o bem e dar valor a coisas mais valiosas do que o dinheiro. Muita gente pode achar que este papo é de louco, que isto é esoterismo que só serve para alienar. Pois bem, experimente o poder interior. Experimente, despido de preconceitos. O bem existe neste mundo tão impregnado de mal. Cabe a nós achá-lo e irradiar no mundo. E este bem está dentro de nós mesmos. Meditando levamos esta energia para fora. E quem sabe um mundo melhor virá a tona.

A sociedade ideal


Sempre que nos falam de comunismo e socialismo, logo pensamos em uma utopia, já que, com o fim da Guerra Fria, a esmagadora maioria de ex-repúblicas socialistas se tornaram capitalistas. As exceções ficaram por conta de Cuba e Coréia do Norte. Ambas não funcionam perfeitamente.

Acredito que apenas os índios conseguiram viver em uma comunidade perfeita. Por que? Os índios, para começar, não tinham esta necessidade que os homens brancos têm de acumular riquezas. Por isso não trabalhavam todo dia. Este é um ponto central para explicar a harmonia indígena. Como todos trabalhavam para a comunidade, todos usufruíam igualmente. Todos eram iguais. A educação das crianças ficava por conta das mães, assim como os cuidados domésticos. Os homens saíam para caçar, pescar e guerrear (sim, a sociedade era igualitária mas existiam guerras tribais).

A hierarquia também era importante. Cada tribo possuía seu pajé (médico) e seu cacique (líder tribal). Respeitando a hierarquia, a harmonia estava garantida. Vaidades, ciúmes e inveja, sentimentos que destroem qualquer sociedade, inexistiam nestas comunidades. Como todos eram iguais socialmente, não havia sentido. A poligamia também fez com mulheres e homens fossem "comunitários".

Tudo isso é impossível de se repetir. Os homens brancos, com os seus valores e costumes, impuseram para todo o mundo o modo ‘certo’ de viver. É triste ver que os verdadeiros brasileiros são ignorados. È triste ver que os primeiros donos da terra cada vez estão mais sem terra. É triste falar português e não tupi. É triste saber que 90 milhões de índios foram mortos ao longo da história.

O homem, além de não conseguir conviver pacificamente, também não consegue viver em harmonia com a natureza. Cada vez mais poluição e desmatamento assolam o planeta Terra. Foram os homens civilizados que fizeram tantas barbaridades.

Algumas tribos ainda mantêm intactas suas tradições e culturas. É um alento. A sociedade inteira deveria se mobilizar par reconhecer a importância dos índios em nossa terra. Eles merecem.

A questão da educação no Brasil

Quando se fala das universidades públicas, os temas de discussão são sempre os mesmos: cotas para negros e pobres, cobrança de taxa de ex-alunos e etc. Será que esta é melhor forma para diminuir esta enorme diferença social que existe nas universidades? Creio que não.

Somente a minoria que estuda em colégios particulares a vida inteira (salvo raras exceções) consegue um lugar nas instituições que deveriam servir para todos. Como consertar isto?. Não é usando cotas!. Isto é nada mais nada menos do que um apartheid. Colocar um negro na universidade simplesmente porque ele é negro é uma atitude racista e injusta . Aposto que este negro gostaria de entrar na universidade como todos. Aposto que este negro não iria se sentir bem em saber que ele só está lá por causa de sua cor e não por causa de suas qualidades.

Se todos tivessem igualdade de oportunidade, não precisaríamos deste método racista. Se todos tivessem oportunidades iguais, a universidade seria um retrato da sociedade: negros, brancos, pobres e ricos juntos.
Portanto, o problema da universidade é mais embaixo. Não adianta tentar consertar o mal sem ser pela raiz. A cobrança de taxas de ex-alunos de universidades públicas também é outra injustiça. O que é público é para todos e ponto final. Cristovão Buarque e Tarso Genro (ministro da Educação que saiu e que entrou) ainda não buscaram a solução do problema pela raiz. Insistem em tentar reerguer o ensino superior público sem se importar com o ensino fundamental e médio.

Infelizmente, temos no Brasil escolas e colégios públicos de péssima qualidade onde professores ganham uma miséria. Enquanto o educador não for devidamente reconhecido e as crianças e adolescentes não tiverem um ensino de qualidade, as universidades públicas ficarão repletas de jovens endinheirados e o resto ficará a ver navios. Para quem não pode estudar de graça (dever do Estado), resta estudar em uma das milhares de faculdades privadas que surgem por aí. Isto é, para quem tem condições de pagar.

O ministro deveria saber que, investindo da na educação de base, todos terão iguais condições de entrar na universidade. Não precisa de cotas, de taxas nem de fim de vestibular. Como esta é uma medida de longo prazo, uma medida de curto prazo poderia ser a criação de vagas públicas em universidades privadas. Isto já seria mais justo.

Criar cotas que nos trazem a triste lembrança da África do Sul pré-Mandela não é nem uma boa opção. Deveríamos enterrar esta triste idéia. Os negros e pobres devem ter um lugar nas universidades. Mas não pela porta dos fundos.

Latino-americano, com orgulho

Já que os estadunidenses tomaram para eles o direito de se autodenominarem "americanos", resta para nós sermos latino-americanos. É até difícil ter orgulho de ser americano com co-irmãos imperialista como aqueles ao norte. Resta-nos ter orgulho de ser latino-americano. América Latina, a Pátria Grande, diferentes culturas ligadas pela herança ibérica.

Nós, brasileiros, temos mania de olharmos para o Leste e para o Norte, através do Atlântico. Baseamos nossos padrões de comportamento nos países desenvolvidos. Com as crescentes intenções dos EUA em dominar a AL de forma política e militar, começamos a olhar um pouco mais atentamente para os nossos vizinhos. Os EUA já têm bases na Colômbia, no Equador, no Peru, em Cuba, no Panamá, no Paraguai...

A história que nos une aos nossos hermanos é lamentável. Os espanhóis acabaram com grandes e avançadas civilizações como a dos incas, maias e astecas. Os conquistadores, além de promover um genocídio, levaram praticamente toda a prata e ouro encontrados, deixando uma terra pobre e uma cultura morta. Os portugueses não fizeram muito diferente, acabaram com um solo fértil por causa da monocultura açucareira, o mesmo que holandeses e britânicos fizeram nas Antilhas. Todos estes povos europeus atuaram juntos na dizimação dos índios, matando mais de 90 milhões. Para se desenvolverem, semearam o subdesenvolvimento aqui.

Se hoje o opressor é os EUA, antes eram os ingleses. Sim, a América é latina mas os ingleses tiveram um papel central na degradação desta terra americana. O papel que os EUA desempenham hoje, ontem foi desempenhado pelos ingleses, e não pelos ibéricos. O ouro e a prata que daqui saía, apenas passavam pela Península Ibérica mas o destino final era a Inglaterra e, em menor parte Holanda e França. A Espanha e Portugal tinham a vaca, mas os outros é que mamavam nas tetas.

A Inglaterra, com seu imperialismo, fomentou uma das maiores tragédias da história da América Latina: a Guerra do Paraguai. Temendo um país que tinha tudo para ser independente, a Inglaterra fez de tudo para que seus ‘aliados-dependentes’ Brasil, Uruguai e Argentina arrasassem o Paraguai. Conseguiu: mais de 90% da população masculina paraguaia morreu na guerra e o país sente as feridas mal cicatrizadas até hoje.

No século XX, a América Latina passou por ditaduras militares impostas pela CIA, revoluções que triunfaram e que fracassaram. Hoje, vê-se o surgimento de governos de esquerda, democraticamente eleitos. Diante da ameaça imperialista e seu instrumento de colonização (ALCA), a América Latina precisa, cada vez mais, de união. Devemos esquecer as rixas e rivalidades bairristas e lembrar que todos somos latino-americanos, com muito orgulho.

terça-feira, junho 28, 2005

Sorria!!!!!!


Certa manhã, acordei feliz. Não havia acontecido nada de especial, mas acordei cantarolando, com um baita de um sorriso na cara. Saí de casa com uma alegria incomum, falando "Bom dia!" para Deus e o mundo. Alguns retribuíam o sorriso, outros apenas resmungavam algumas palavras.

Caminhando e cantando, vi que estava quase sozinho com meu sorriso. Ninguém nem sequer olhava para o lado, apenas seguiam com seus passos apressados. Pensei comigo mesmo: "Será que as pessoas não sorriem?" Sim, porque o sorriso está se tornando uma coisa rara nos tempos caóticos de hoje.

Comecei então a reparar nas pessoas. O que será que se passava na cabeça deles? Apenas preocupação? Será que ninguém tinha ao menos um motivo para sorrir? Fiquei tão preocupado com a humanidade que quase perdi a minha alegria.

De repente uma criança passou por mim e sorriu. Até que enfim! Será que apenas as crianças ainda não foram engolidas pelo "vírus da cara-fechada"? Elas ainda não tomaram as bordoadas que a vida dá na gente. Ainda estão envoltas numa pureza que vai se perdendo conforme crescemos. É por isso que temos muito que aprender com eles. Este sorriso gratuito é fundamental para podermos viver com um mínimo de decência.

Esta pureza infantil reforçou meu sorriso. E segui minha caminhada... Aos poucos, o que era raro começou a se tornar um pouco mais comum. Vi um casal apaixonado que irradiava felicidade, vi um torcedor eufórico com a vitória de seu time sobre o rival, vi dois senhores rindo de piadas que há tempos já não tem a menor graça.

E vi dois trabalhadores tomando uma cerveja na hora do almoço. Eles batucavam na mesa do bar e faziam versos de improviso: "Saí de casa pensando e penando por causa dela. Foi-me embora e agora sobrou apenas uma nega banguela" E o outro respondia: "Maria Estela era muito bela e era tudo o que eu sempre quis. Mas só me sobrou aquela outra que ta lá em casa chupando o nariz". E riam muito. E eu ria junto, é claro.

Minha caminhada findou quando cheguei à casa de minha mãe. Mas meu sorriso permaneceu comigo até o fim do dia. E como seria bom se todos fizessem o mesmo. Pensei, então, que não poderia deixar de escrever uma apologia ao sorriso.

E poetas anônimos e famosos já fizeram o mesmo. "O sorriso é o derreter do gelo da alma" ouvi por aí uma vez. "O sorriso é o momento em que a pureza da alma toma conta de nossos sentimentos..." vi escrito em um muro. O mestre Cartola também já sabia que levar a vida a sorrir era o melhor caminho. E é mesmo. Sorria e irradie a felicidade para todos ao seu lado. Sorria e leve a vida assim. Será melhor para o mundo.

Glorioso Alvinegro Praiano


No dia 14 de abril de 1912, ele nasceu. Os primeiros anos de vida foram muito difíceis, sempre relegados ao fundo da tabela. Era um time pequeno, do interior (na verdade do litoral). Os grandes da capital, Corinthians, Paulistano e depois o Palestra Itália papavam todos os títulos. O Santos Futebol Clube era um mero figurante nos campeonatos paulistas e passava por grandes privações na vida administrativa. Como um menino pobre lutando em condições desiguais com os riquinhos do bairro.

E o tempo passou. Até que em 1927, já passada a pré-história santista, o time da Vila Belmiro (sim, ela já existia) formou um belíssimo time que fez cem gols no torneio paulista. Porém, não levantou o caneco. Durante os oito anos seguintes o time da baixada mostrou que não era pequeno e beliscou, beliscou até finalmente ganhar o título em 1935. Esta foi a idade antiga, curta mais esperançosa.

O que não foi nada alentador foram os vinte anos seguintes, a chamada idade desértica. Um jejum de vinte anos sem títulos. O jovem conseguiu emprego, se encheu de esperança, mais logo depois ficou no ostracismo do desemprego durante um longo tempo.

Tudo indicava que o time da baixada santista seria um eterno fogo de palha. Porém, em 1955, após um longo período de brumas, como a Idade Média, começou uma nova e maravilhosa fase para o Santos, a Renascença. De 1955 até 1974, o Santos ganhou tudo o que disputou, se tornou o melhor e mais místico time do mundo. Por estes anos, a Vila Belmiro se tornou o palácio real do futebol onde o Rei Pelé desfilava toda sua habilidade. Após o ostracismo, o sucesso veio para ficar no Santos. Já adulto, um pouco idoso até, a
compensação veio.

Mas, a fonte secou, a Vila deixou de ser o palácio real, o Rei parou de jogar. De 1974 até 1995, a idade moderna, um novo deserto apareceu, com alguns oásis esparsos. O homem se acostumou com o sucesso e não se preparou para o futuro. Pagou o preço. Surgiu a dúvida, o que seria do Santos sem Pelé? Será que o Peixe conseguiria se reerguer? A reposta veio a partir de 1995, na idade contemporânea.

Em 1995, o Santos foi vice-campeão brasileiro e a partir daí começou a chegar mais em decisões, ganhar alguns títulos menores. O homem viu que não podia ficar esperando ganhar na loteria. O Santos não podia esperar por um novo Pelé. Tinha que se mexer. E deu certo. Com uma molecada boa de bola, o Santos foi campeão brasileiro de 2002, repetiu o feito em 2004, e voltou ao topo do futebol brasileiro.

Um time pode um dia acabar, assim como o homem um dia morre. Porém, se for administrado competentemente, torna-se imortal. E gerações e gerações nutrem-se desta paixão que é torcer pelo seu time de coração. Uns são mais felizes e vem as fases boas. Outros mais tristes e vêem filas. Outros vêem as duas coisas. Mas somente quem torce pelo alvinegro da Vila Belmiro sabe o que é torcer por um time que tem uma mística enorme. Se o Santos fosse um homem, ele seria aqueles que marcaram a história da humanidade. O Santos é único.

A indústria do tráfico cultiva medo


O Brasil segue o modelo de política anti-drogas estadunidense desde o começo do século XX. Neste século que se passou, o problema das drogas, que antes era simplesmente um problema de saúde, começou a virar um problema criminal, um caso de polícia.

No começo do século passado a maconha era encarada pela sociedade conservadora dos Estados Unidos como uma erva do diabo, que corrompia os valores bons e levava para a criminalidade. Os países da América seguiram a proibição estadunidense. Nem discutiram a questão. Se os EUA falaram, está falado.

O tempo passou, chegaram os anos 60... Muitos fumavam maconha e tomavam ácido. Era uma maneira de confrontar a sociedade, era a contracultura. Na Europa, entenderam que não havia sentido em proibir uma droga leve (maconha) e liberar outras pesadas (álcool e cigarro). A Holanda se adiantou às demais e liberou todas as drogas. Lá é assim: ao usar drogas você prejudica a apenas você. Quem não gosta não usa.

O Brasil ainda segue os EUA e paga caro por isso. No Brasil, o índice de homicídios com armas de fogo é de um país em guerra. Esta guerra é a do tráfico, do poder paralelo que ele gera. Quantas pessoas marginalizadas não têm perspectiva nenhuma a não ser entrar no tráfico, ganhar respeito, poder e dinheiro. Este tráfico que gera mortes e mais mortes não abre os olhos dos governantes. Preferem culpar os usuários e se isentar de
qualquer responsabilidade?

O álcool e o cigarro causam maior dependência química que a da cocaína e matam mais que qualquer coisa. Entretanto, podemos ver todo dia na televisão propagandas de cerveja com mulheres lindíssimas e saudáveis. O detalhe é que, logo depois desta propaganda vem uma outra propaganda contra as drogas ‘ilegais’. A novela das oito faz apologia contra as drogas em uma cena e na outra aparece a Vera Ficher enchendo a cara de champanhe. Que hipocrisia!

Ao seguir o modelo estadunidense de combate às drogas, o Brasil cultiva uma indústria de guerra nos morros. Cultiva o medo. Usuários de maconha apanham quando são pegos fumando ao passo que o bêbado pode usar a sua droga tranqüilamente nos botecos. O Brasil cultiva hipocrisia.

A solução para o fim da guerra nos morros, a solução para o fim da guerra do tráfico, a solução para o fim do tráfico é a legalização das drogas, seguido de uma forte campanha de conscientização. Você usa droga e se prejudica. Os outros não tem nada a sua escolha. Cada um na sua, respeitando o próximo.

Infelizmente, porém, o Brasil ainda tem o rabo preso com os EUA. Será que não está na hora de seguir o modelo europeu?

Uma composição


Uma composição não é apenas uma composição. Um sentimento brota da alma, uma poesia se forma e uma melodia invade o ambiente. Muitas pessoas devem pensar que, para se fazer uma canção, é preciso ser o "tal". Não é verdade. As canções surgem nos momentos de inspiração.

Na verdade, isto não basta. Candeia já cantava: "Não, não basta ter inspiração, não basta fazer uma linda canção. Pra cantar samba é preciso muito mais. Samba é lamento, é sofrimento, é fuga dos meus ais..." Um samba é mais que um samba. O processo da criação é diferente de algo que é feito para ser sucesso. Nunca um verdadeiro samba é algo encomendado.

O samba, e todas os outro gêneros "puros", sem deturpação, sem envolvimento com o gênero comercial, é sentimento. João Nogueira e Paulo César Pinheiro ilustram bem isto nesta canção: "Não, ninguém faz samba só porque prefere/ Força nenhuma no mundo interfere sob o poder da criação/ Não, não precisa estar nem feliz nem aflito/ Nem se refugiar em lugar mais bonito/ Em busca da inspiração/ Não, ela é uma luz que chega de repente/ Com a rapidez de uma estrela cadente que acende a mente e o coração..." Como Candeia, eles começam negando. Este "não" é um "não" ao falso samba, à banalização do que temos de mais puro.

Uma poesia, em si, já é carregada de sentimento. Um punhado de palavras que emocionam, que tocam dentro do nosso peito. Palavras ritmadas, rimadas que produzem alegria, tristeza, reflexão, indignação. Palavras que lembram um antigo amor ou que nos faz pensar quão injusto é o mundo em que vivemos.

Adicione a esta poesia uma linda melodia. Fica melhor ainda. É por isso que a música é maravilhosa. E é por isso que uma música sem uma letra à altura não toca tanto quanto uma bela poesia bem musicada.
A música universal já foi muito maltratada. Muitos pensam que fazem boas canções, mas apenas colocam melodias medíocres sobre letras tão medíocres quanto. Deveria haver uma outra denominação para isto. Música é coisa boa, deveriam dar outro nome para o que o Tchan faz. Aquilo não é música. É um desrespeito a todos que tem ouvidos educados.

Música é o que Cartola, Candeia, Ismael Silva, Noel Rosa, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Chico Buarque, Bob Marley, Mozart, Chopin, Jimi Hendrix, e outros gênios fazem. Na verdade, não é preciso ser um gênio. A música deve ser pura, feita com sentimento, amor... Música é algo que vem de dentro e não de fora. Por isso não pode ser encomendada para o sucesso.

Iates e miséria

Como podemos dar festas em iates
Se ao lado temos fome e miséria?
Como podemos ter ouro de diversos quilates
Se ao lado os mendigos estão a rastejar?

A opulência de uns é a pobreza de outros
É assim entre as nações, é assim entre as pessoas
Enquanto muitos mendigam, outros têm coroas
Enquanto muitos sofrem, outros têm vidas boas

A propriedade é privada e a miséria é coletiva
A terra tem dono? Os rios têm dono? O mar terá dono?
E depois de usado, o que resta? Abandono.

É o destino do nosso belo planeta
Nas mãos de gente de gente estúpida
É o destino deste mundo
Cada vez mais desgastado e imundo

Como pode o mundo ser dominado
Por um homem alucinado
Um cowboy ursupador
Um estúpido matador?

A história de uma roda de samba. Capítulo 2

O terreiro estava em festa. A roda de samba era contagiante A alegria que reinava no local em nada lembrava o clima de enterro de alguns meses atrás. Naquela época, o reco-reco de bambu e o repique estavam seqüestrados. Além disso, o violão estava com uma depressão terrível, não queria saber de nada, só sofria.

O tempo passou. Tudo se acertou: os instrumentos foram libertados, a depressão do nosso amigo foi superada por um grande amor e a roda de samba voltou a dar espetáculo. Qualquer coisa era motivo de comemoração. Desta vez, a festa era de despedida.

O violão, que estava arrebentando nas rodas de choro, iria passar uma temporada na Espanha. Sua namorada, a flauta, ficou triste, mas sabia que a experiência na Europa seria muito boa para o seu parceiro. Afinal, ele iria entrar em contato com novos ritmos e novas técnicas.

Na véspera do embarque, a festa foi completa. Integrantes da escola de samba, do terreiro de macumba e da roda de choro também estavam presentes. Uma festa digna da admiração que todos tinham por ele. Ao final do pagode, só os mais resistentes continuavam fazendo barulho. A maioria já havia capotado.

Chegou a hora do embarque. Para todos, a promessa de trazer muito virtuosismo da Espanha. No avião, ficou pensando na flauta. Era difícil dizer para ela, mas a verdade é que ele já não a agüentava mais. Ela só chorava. Tudo bem, chorinho é legal, mas o violão cansou. Quem agüenta tanta choradeira?

Chegando em Madri, foi recepcionado por dois violões. Descansou um pouco e logo embarcou para Sevilha. Era lá que iria aprender novas técnicas de violão. Era lá que ele iria conhecer um novo amor (ou melhor, dois grandes amores).

No Brasil, os instrumentos seguiam suas vidas normalmente. As rodas de samba e de macumba continuavam a sacudir os terreiros. Já o chorinho... Não estava muito bom, não. A flauta não estava conseguindo solar direito. Tinha muita saudade do violão. Percebendo isso, o bandolim, chegou junto dela e falou: "Ô Dona Flauta, não me leve a mal não, mas você não está tocando bem. Quer tirar uma folguinha, descansar, esperar passar esta saudade louca?". Ela não teve dúvida: tirou uma licença...

Aos poucos, a rotina da roda de samba começou a ser alterada. A flauta, convidada pelo cavaquinho, abandonou seu retiro e começou a tocar na roda de samba. Estava sem cabeça para solar, mas podia acompanhar tranqüilamente a levada do samba. O cavaquinho adorou. Era muito amigo do violão, mas tinha um amor platônico pela flauta. Iria ficar mais perto dela.
Os instrumentos que compunham a roda de samba tinham uma amizade muito forte, quase fraternal. Isto não impedia que conflitos ocorressem... Durante a época em que o violão esteve fora, muita coisa aconteceu.

Em Sevilha, o violão começou a freqüentar espetáculos de música flamenca. Ficou impressionado com as técnicas requintadas dos violões de lá. Entretanto, o que realmente o impressionou foram as castanholas. Na hora, pensou na flauta. Pensou naquela choradeira que não agüentava mais. Pensou, pensou, pensou... E correu pro abraço... As castanholas eram encantadoras demais para ficarem sozinhas.

Findado o espetáculo, o violão convenceu as castanholas a irem para o quarto do seu hotel... E, depois de uma noite de muito amor, o violão fez uma propôs a elas: "Por acaso vocês não querem vir para o Brasil comigo?". Era uma proposta absurda, a flauta o esperava no Brasil. Mas elas aceitaram. Como seriam recepcionadas no Brasil?

Muita coisa aconteceu no Brasil durante a época em que o violão esteve fora. Os instrumentos começaram a abrir novos horizontes e a roda de samba começou a ficar cada vez mais em segundo plano.

O repique (aquele mesmo que um dia foi seqüestrado) conheceu uma cítara em uma apresentação de música indiana. Deixou para trás seu antigo romance para começar a se apresentar com ela. Veja como são as coisas: a cuíca, disputada a tapas outrora, agora estava abandonada. Ela ficou injuriada com essa história e se mandou para os EUA. Lá iria ganhar dinheiro com apresentações nas ruas de Nova York.

A deserção não parou por aí... O pandeiro se juntou a um grupo de samba-rock. Ele adorava a roda, mas precisava colocar dinheiro em casa. Sua mulher, a caixinha de fósforo (que só ia ao samba de vez em quando) já o pressionava para arranjar um emprego mais decente.
O atabaque cansou de tocar samba e voltou para a macumba... A roda estava se desintegrando apesar dos apelos do surdo, que cantava a todo o momento: "Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar...".

Chegava o dia da volta do violão. A roda estava em crise... O repique, a cuíca, o pandeiro e o atabaque haviam abandonado o samba. Cada um tinha a sua desculpa, mas uma coisa era certa: a tirania do surdo impossibilitava qualquer harmonia na roda. Ele se considerava o líder e todos tinham que fazer as coisas do jeito dele.

Quando o violão desceu do avião todos estranharam a presença das castanholas junto dele. A flauta já foi enquadrando seu namorado: "Quem são essas lambisgóias?". A resposta do violão: "Elas vieram conhecer o Brasil e o samba". A flauta, com uma pulga atrás da orelha, foi sucinta: "No momento que elas entrarem na roda, eu saio". O violão, que já não agüentava mais a flauta chorona, se sentiu aliviado e falou: "Então, adeus".

A flauta não acreditava no que estava vendo. Acabara de ser trocada por duas castanholas.
Decidiu nunca mais freqüentar essas rodas boêmias. Iria para uma orquestra... Com isso, mais uma baixa se confirmava na roda.

E não era a última... O violão foi vetado de participar da roda. Sua atitude desagradou a todos. Como ele pôde fazer aquilo com a flauta? Um canalha como ele não tinha vez no samba.
Com a partida da flauta e do violão, o cavaquinho passou a compor desesperadamente. Era a maneira que ele encontrou para não enlouquecer. Mas ele teria de esperar um pouco para mostrar suas músicas. O futuro da roda de samba não era nada animador.

Sobrara apenas o tamborim, o surdo, o cavaco, o sete-cordas, o agogô e o ganzá... Era uma roda com muitos problemas e muita disputa interna. Não se conseguia nem mesmo ensaiar. A prepotência do surdo irritava a todos.

Deu-se então um golpe final. O agogô, o tamborim e o ganzá resolveram voltar para a escola de samba. Lá estariam livres do surdo. Já o sete-cordas e o cavaco, foram convidados para gravar um disco. O prato e a faca, sem terem para onde ir, voltaram para a cozinha. O surdo ficou sozinho...

Após muito samba, a roda de desintegrou. O surdo, sozinho no terreiro vazio, repensou todas suas atitudes. Mas era tarde. Estaria morta a roda de samba? Seriam superados os conflitos internos? Só tempo resolveria esta questão.

(não percam o próximo capítulo..)

A história de uma roda de samba

O cavaquinho dá o tom: é um ré menor. O pandeiro entra, juntamente com o tamborim e o agogô. Quando o samba vai repetir o verso, o 7 cordas capricha na baixaria e o surdo entra na marcação. A cuíca que estava de espreita, só esperando sua hora, começa a gemer. O ganzá vibra enquanto o prato e a faca seguem na levada.

O ritmo é bom, é redondinho. Mas esta faltando alguém: o violão. Pobre violão. Brigou com o cavaquinho e decidiu não entrar mais no samba. O motivo: ciúmes do sete cordas. Viu que o cavaquinho estava muito cheio de entrosamento com as baixarias em ré menor. Depois que descobriu o 7 cordas, o cavaquinho só queria saber de brincar com o mais novo amigo. O antigo parceiro, companheiro de tantas histórias, ficou relegado a ser um mero coadjuvante. O violão, que antes era idolatrado, assediado por todos, teve que se contentar em segurar a melodia.

E não era só o violão que estava ausente: alguém percebeu que o repique de anel e o reco-reco de bambu ainda não haviam chegado. Em compensação, o reco-reco de metal estava lá. E como o samba não pode parar, o ganzá, que estava meio arredio, entrou no refrão. Ele estava invocado. Não era só ele. O pandeiro também estava muito bravo. Desconfiavam seriamente que o reco-reco de metal tinha armado uma cilada aos dois comparsas, o repique de anel e o reco-reco de bambu.

Tudo começou no samba da noite anterior. O reco-reco de metal não pôde participar da roda, já que o reco-reco de bambu era mais educado, não falava pelos cotovelos e nem ficava gritando. A verdade era que o ganzá e o pandeiro tinham simpatia apenas pelo reco-reco de bambu. Este chegava na humildade, não atravessava ninguém. Não gostava de aparecer, não gostava de soar mais alto que ninguém. Já o reco-reco de metal era mais barulhento, mais chegado a desfiles de escola samba. Lá era seu reduto, não o terreiro.

Por diversas vezes, o reco-reco de metal foi barrado na porta do terreiro. A desculpa era sempre a de que já havia outro reco-reco na roda. Como se sentia muito desprestigiado, chamou toda suas gangue, a bateria da escola de samba, para fazer uma emboscada. Queria dar fim no reco-reco de bambu, seu arqui-rival, e no repique de anel. Mas por que o repique de anel estava na lista negra do maldoso reco-reco de metal?

Esta rixa com o repique era antiga. Muitos anos atrás, o reco-reco de metal teve um caso com uma cuíca da escola de samba. Era uma cuíca super afinadinha, uma graça. Foi nos ensaios, na quadra da escola, que começou o caso. Foi um romance tórrido. Mas aí aconteceu uma coisa que o reco-reco de metal não esperava: a cuíca se desentendeu com o cavaquinho puxador. Logo com o cavaquinho puxador, o dono da escola. Resultado: a cuíca foi expulsa e acabou indo parar num terreiro. Neste terreiro, se envolveu com o repique de anel.

Por isso, o reco-reco de metal estava louco. Além de não poder entrar no terreiro (por causa do outro reco-reco), ainda viu seu grande amor se envolver com o repique de anel. Aquilo foi a gota d’água.

Voltemos a fatídica noite da emboscada. Findado o samba, o reco-reco de bambu estava indo para casa quando foi abordado por vinte e cinco tamborins com sangue nos olhos. Quando tentou fugir, foi espancado e amarrado. Já o repique foi cercado por um bando de surdos mal-encarados e nem tentou reação. Foi levado ao cativeiro.

Todos estranharam quando, no samba do dia seguinte, o repique e o reco-reco de bambu não apareceram. Mais estranho ainda foi a presença do reco-reco de metal. Desta vez ele não quis nem saber. Justificou que faltavam dois instrumentos e que sua presença era aceitável. A cuíca ficou meio sem graça ao rever o reco-reco de metal. Afinal, abandonou o seu antigo amor para ficar com o repique.

O samba não ficou muito bom. Todos estavam muito incomodados com o reco-reco de metal (menos o violão que estava encostado num canto, deprimido). Ele atravessava todo mundo com a potência de seu som. Além disso, estava meio descontrolado, tinha tomado umas e outras. Quem mais ficou bravo foi o pandeiro e o
ganzá. Eles eram os maiores prejudicados já que o som do reco-reco de metal os abafava.

O clima ficou tenso. O samba acabou mais cedo. O 7 cordas foi com o cavaquinho para uma roda de choro, queriam esquecer o incidente. Já os outros estavam com os nervos à flor da pele. Sabiam da rixa do reco-reco de metal com o reco-reco de bambu e sabiam que a cuíca trocou o reco-reco de metal pelo repique de anel.
O surdo já estava quase partindo para cima do reco-reco de metal quando a turma do deixa-disso o afastou. O atabaque acabou convencendo a todos os batuques para irem a um terreiro de macumba. Lá eles conversariam mais calmamente.

Depois de muito pensarem no que fazer, o surdo teve uma idéia: ele conhecia o cavaquinho puxador da escola de samba. Iria pedir para ele (que conhecia bem os seqüestradores) ajudar na investigação.
O reco-reco de bambu e o repique de anel eram muito queridos na roda. Estavam sempre contagiando a todos com sua alegria. Sem eles, não havia clima para a roda prosseguir. Além disso, a eterna melancolia do violão já começava a preocupar.

Mais um dia se passou e lá veio o reco-reco de metal, com um baita sorriso. Recebeu de volta olhares fulminantes. O samba estava suspenso até os dois amigos serem encontrados. O vilão da história não estava nem aí. Foi embora rindo, crente que iria conquistar o coração da cuíca novamente. Porém ela estava morrendo de raiva dele.

Ao chegar na escola de samba, dando risada, o reco-reco foi enquadrado pelo cavaquinho puxador. Ele disse: "Ó, é o seguinte: tô ligado na sua, sei do seu proceder errado. Meus amigos lá do terreiro disseram que você é o culpado pelo desaparecimento dos chegados deles". O reco-reco tremeu na base. Se havia alguém que ele respeitava, era este cavaco. O puxador prosseguiu: "Se você quiser continuar tocando, libera os malucos. Se não, vai acabar no ferro-velho". Ele, então, aceitou liberar os prisioneiros.

À noite, após muita negociação, os dois instrumentos foram libertados, não estavam entendendo nada. Viram a cara de arrependimento do reco-reco de metal e o perdoaram. Voltaram para o terreiro e o reco-reco de metal voltou para o ensaio geral.

Triste por não poder fazer samba de terreiro e por ficar sem seu amor, mas feliz por ter sido perdoado, o reco-reco de metal se entregou de corpo e alma à escola de samba. Mas não esqueceu seu grande amor. Morreu de desilusão.

No terreiro, tudo voltava ao normal: o reco-reco de bambu estava de volta dando sua graça, o romance da cuíca com o repique pôde prosseguir e o ganzá e o pandeiro já não estavam sendo atravessados. Mas o violão ainda estava triste. E era ruim ter alguém triste na roda.

Todos os instrumentos se reuniram e tiveram uma idéia: o 7 cordas e o cavaquinho iriam leva-lo para uma roda de choro. Lá, iriam apresentar o violão para a flauta, que já era afim do violão há tempos.
O violão foi e, quando viu a bela flauta de prata, se apaixonou. Não saiu do choro nunca mais. E o casamento se deu em grande estilo: muito samba e choro, com todos caprichando. E mais uma vez a roda trouxe alegria e prazer.

segunda-feira, junho 27, 2005

A mercantilização da cultura

O tempo se encarregou de industrializar a nossa cultura. Basta lembrar como eram as coisas antes... O futebol, a música, as escolas de samba, as artes... Tudo perdeu sua espontaneidade. O dinheiro entrou na parada com tanta força que desvirtuou a cultura brasileira.

No começo do século passado, o dinheiro já tinha um peso enorme. Como hoje, as pessoas buscavam mais e mais dinheiro para poderem ter cada vez mais conforto. O dinheiro, porém, estava ligado ao comércio, à industria, aos serviços. A busca intensa se restringia a alguns setores da sociedade. A música, a dança, o futebol e o carnaval eram instrumentos de descontração, desvinculados do capitalismo, desvinculados da busca insana pelo capital.

Conforme o século avançou, o dinheiro tomou conta de tudo. Tudo virou mercadoria. Até a água já virou mercadoria. E o que era diversão virou negócio.

O futebol

Os brasileiros nascem, crescem e morrem torcendo por um time de futebol. Os paulistas torcem para Santos, Corinthians, Palmeiras ou São Paulo; os cariocas, para Flamengo, Fluminense, Vasco ou Botafogo; os gaúchos para Inter ou Grêmio... Todo brasileiro já nasce no meio do futebol. O tio vai dar uma camiseta do Corinthians e a mãe, palmeirense, não vai gostar. Mas o avô é são-paulino e o pai é santista. E aí? A primeira decisão importante na vida de um brasileiro é a escolha do time do coração. Muitas vezes há uma influência, outras vezes a criança vira a casaca e ignora o time do coração do pai. A paixão começa a aflorar e mais um torcedor fanático está formado.

Esta paixão que arranca lágrimas de alegria e dor, que traz felicidade e tristeza, que gera comoção e êxtase, decepção e sofrimento, remonta ao começo do século. Nossos ancestrais já vibravam e choravam por causa do nobre esporte bretão.

Privilegiados, nossos pais e avós viram um esporte que ainda não era um negócio. Viram atletas jogarem por amor. Viram jogadores comerem a bola por décadas a fio no mesmo time. O salário não era dos melhores, mas mesmo assim rejeitavam-se propostas de clubes europeus. Preferiam ver um estádio lotado (muito comum naquela época) vibrando com o time do coração.

Os jogadores se identificavam com o clube e lá ficavam. Gostavam de ganhar muitos títulos por um mesmo clube, gostavam de serem idolatrados pela torcida. Pelé quase duas décadas no Santos, Ademir da Guia fez sua carreira no Palmeiras e Rivellino, apesar de não ter ganhado títulos, foi o grande ídolo do Corinthians por muitos e muitos anos. O futebol era amador, no sentido literal da palavra.

Chegaram os anos 90. Os salários foram ficando cada vez maiores e os jogadores já não ficavam tanto tempo no mesmo clube. Agora, os europeus já não poupavam mais dinheiro e nossos melhores atletas foram ganhar muito, mas muito dinheiro no Velho Continente. O futebol se tornou um negócio extremamente lucrativo para personagens nefastos que não existiam antes: os empresários.

As transações milionárias se tornaram muito freqüentes. Se por um lado, isso fez com que nossos melhores atletas fossem para o exterior, abriu espaço para uma renovação sem precedentes no futebol brasileiro. A cada ano surgem craques que depois de uma ou duas temporadas (justamente quando o futebol está amadurecendo) vão embora.

A renda dos clubes vem, principalmente destas transações. Uma outra fonte importante é o dinheiro que vem das TV, mais importante que a renda de bilheteria. Talvez por isso os estádios vivam às moscas e a renda da bilheteria seja irrisória.

O abismo entre o futebol sul-americano e europeu é incrível. Os brasileiros e argentinos são os melhores e vão brilhar na Europa. As ligas de lá são repletas de craques, mas esta realidade faz com que surjam poucas revelações européias. Por exemplo: como é que uma jovem revelação do Real Madrid irá cavar seu espaço num time cheio de estrelas como Ronaldo, Raúl, Morientes, Owen, Beckham, Figo e Zidane?

O negócio da bola é diferente por lá. Os europeus não precisam vender craques para sustentar o clube. Ao contrário, eles compram craques com dinheiro que vem de bilheteria e venda de produtos licenciados. É o capitalismo do futebol: os subdesenvolvidos são privados de ver seus craques em campo. Só na seleção (e ainda assim por um preço incompatível com a realidade brasileira).

Esta diferença no negócio da bola felizmente tem um lado bom: pipocam craques no Brasil. Temos uma leva tão boa para a próxima Copa (fruto da renovação forçada) que nenhuma seleção européia conseguirá parar. A industrialização do futebol tira nossos craques daqui e impede que o Brasileirão seja uma liga forte. Felizmente, o preço que os europeus estão pagando é muito alto: o Brasil é penta e tende a abocanhar as próximas Copas.

A música

Quando ainda era jovem, Cartola, fundador da Mangueira e um dos maiores gênios da música brasileira, foi abordado por um senhor que queria comprar suas composições. Ele não entendeu nada. Vender um samba, para ele era impossível. Era como vender um sorriso, vender um gracejo, vender o vento... Quando, por fim, entendeu como funcionava a indústria fonográfica, acabou cedendo e seus sambas passaram a ser gravados por artistas como Mário Reis e Francisco Alves.

Cartola nunca ganhou o dinheiro que ele merecia. Só foi gravar nos anos 70... Os compositores não recebiam o merecido reconhecimento. Apenas os intérpretes... Com o tempo isso foi se alterando, mas a industrialização da música se acentuou...

A busca pelo sucesso fez com que as músicas passassem a serem feitas com o claro objetivo de fazer sucesso. O negócio, quando bem feito, é muito lucrativo. A inspiração deu lugar a encomenda. A busca por belas melodias deu lugar a músicas pobres que caem na boca do povo.

O lixo é geral. Não se vêem novas tendências na música. Com a brilhante exceção do movimento mangue beat (dilacerado precocemente com a morte de Chico Science), a cena musical brasileira na última década foi medíocre. O surgimento das bandas de Axé foi uma das piores coisas (se não for a pior) que já aconteceram em toda história da música popular brasileira. É muita busca por dinheiro e muita indecência.

A boa música sobrevive marginalizada. Os estrangeiros valorizam mais a nossa boa música do que nós mesmos. Nossas rádios tocam Avril Lavigne e não tocam Candeia. Tocam Outcast e não tocam Pixinguinha. Tocam Britney Spears e não tocam Benedito Lacerda. Tocam Shakira e não tocam Cartola... Lamentável.

O rio de dinheiro que corre para produzir o disco novo do É o Tcham muito bem poderia ser investido na recuperação de gravações históricas de nossos gênios da música. Mas não, o carnaval da Bahia precisa de novos hits a cada ano...

O carnaval

Deveriam até mudar o nome. De tão descaracterizado que foi, o carnaval de hoje não merece mais esse nome. Sim, porque o carnaval era a expressão do povo, era cultura popular, era amor e emoção. E o que é hoje? Uma indústria, voltada para o turismo. O carnaval hoje é um produto para vender para gringo...

As escolas de samba, símbolos do carnaval, há tempos perderam seu amadorismo. É tanto interesse que nem sobra mais espaço para os verdadeiros sambistas das escolas. Turista que nem sabe a história da escola desfila, gostosas da Playboy são as rainhas da bateria e grandes indústrias investem com muito interesse. Por exemplo: o enredo da Mangueira (nem ela está salva!) fala sobre energia. Sabe quem investiu no desfile? A Petrobrás. E por aí vai.

A desvirtuação é enorme. Fica a saudade de quem já viveu tempos melhores e a tristeza de quem não viu e nem vai ver um verdadeiro carnaval.

Daqui a pouco precisaremos ir a um museu para bebermos o néctar da (real) cultura brasileira.