sexta-feira, abril 07, 2006

Jair e as flores

“Quando eu passo perto das flores
Quase eles dizem assim
Vai que amanhã enfeitaremos o seu fim”

É, seu Jair, esse samba seu e do Nelson é antigo. Seu parceiro se foi e teve as flores em vida. Agora você também foi. As flores que enfeitam seu fim alegraram sua vida.

Que honra tive eu de poder te conhecer, Jair. Nunca me esqueço daquele dia em que você me falou sobre a Portela antiga. Pois é, você era o sócio número 1, o mais velho da Velha Guarda, contemporâneo do Mestre Paulo. E ainda assim, atravessou o século, chegando até este fatídico 6 de abril de 2006, o dia em que finalmente as flores enfeitaram seu fim.

Escutei muito você nestes últimos dias. Você já estava internado, mas eu não sabia... Nestes dias escutei muito “Os Cinco Crioulos”. Neste instante mesmo escuto você cantando o samba “Vaidosa” do Herivelto Martins. Estou triste pela sua ida, Jair. Gosto muito dos seus sambas, da sua palhetada (a mais veloz do samba, segundo Jacob do Bandolim), da sua voz...

Você se foi. Mas foi um vencedor. Um negro pobre e suburbano normalmente não consegue se consagrar. Apenas os boleiros e os grandes sanbistas como vocês, da gloriosa Velha Guarda da Portela, que agora está de luto. Você venceu já nos anos 60, quando integrou o “Rosas de Ouro”, o “Voz do Morro” e o “Cinco Crioulos”. Estes conjuntos resgataram o samba e você fez parte dessa época histórica.

Já velhinho, gravou o seu único disco solo. Você e seu cumpádi Argemiro. Ambos esperaram a consagração final antes de darem seus suspiros finais.

Mas tudo bem. Tem muita gente bamba aí com você, aí em cima. Você vai rever o Paulo, o Alvaiade, o João da Gente e toda a turma da Portela, o Nelson, o Cartola, o Mauro, o João Nogueira, o Silas, o Mano Décio... O pagode deve estar caprichado. Vai lá. Pega seu cavaquinho, chega na roda de mansinho, com seu miudinho, e capricha na palhetada. Aqui, as flores enfeitam seu fim e a saudade já é enorme.