segunda-feira, outubro 26, 2009

Pátria?

Nossa sociedade é medrosa e se esconde atrás de muros para ignorar uma realidade desigual, fruto da cegueira voluntária por parte de uma elite que se recusa a ajudar o outro lado.

O medo permeia tudo. Tememos os marginais que são marginalizados por conta de um sistema social marginalizante. O preconceito social faz com que tenhamos medo destes. Também tememos a nós mesmos e não nos permitimos estender a mão àqueles que são diferentes que nós.

Tememos o próprio amor, pois o egoísmo é algo tão latente nos valores da sociedade contemporânea que nos privamos de compartilhar a felicidade com alguém. Como confiar em alguém? Como se entregar a alguém, se para isso não dependeremos exclusivamente de nosso egoísmo? Eles quiseram, tentaram e conseguiram mercantilizar os sentimentos e emoções.

De tantos temores, nos privamos de viver. Pelo medo de amar, deixamos de nos encantar. Pelo medo de errar, deixamos de tentar. Pelo medo de viver, nos contentamos em apenas sobreviver.

Junto ao medo, andam lado a lado a mentira, a hipocrisia e a falsidade. Condenamos o uso de maconha, apontando o exemplo do tráfico, mas enchemos a cara de uísque e anti-depressivos, drogas legais que rendem boas cifras aos cofres públicos. Proibimos o uso de cigarro nos bares boêmios alegando que este ambiente era insalubre, mas colocamos todos os dias milhões de carros nas ruas, poluindo o ar e acabando com a qualidade de vida dos cidadãos com seus intermináveis engarrafamentos.

Vivemos numa sociedade policialesca e proibitiva. Preocupamos-nos mais com o que não pode fazer do que com as possibilidades valorosas que deixamos de enxergar por conta de uma lente míope que esta presente na armação da maioria dos óculos das brasileiros. São inúmeras as restrições, mas quase não existem direitos e garantias de decência.

Somos educados para temer quem é diferente e não falar com eles. Somos condenados, desde pequenos, a nos resignar e não nos indignar. Aceitamos a pobreza, a corrupção e a pilantragem como quem aceita uma simples derrota de seu time do coração. Vivemos num país onde a honestidade é uma qualidade e não uma naturalidade. E o jeitinho brasileiro, sinônimo de trapaça legalizada, é valorizado.

Crescemos e ensinamos aos nossos pequenos estes valores brasileiros nada nobres: resignação frente a um implacável destino, valorização e banalização da desonestidade, imobilidade e incapacidade de sequer sonhar com um Brasil novo, medo daqueles que são os mais golpeados e massacrados pelo sistema, ao passo que continuamos a votar e colocar no poder os maiores facínoras da nossa nação.

Diante de uma estrutura de poder tão arcaica e de uma sociedade com aspirações e preocupações tão vazias, como falar em Pátria, se ainda nem abandonamos traços e ranços coloniais?

O Brasil é um país com contradições continentais
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