sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Sobrevida

A cratera do metrô engole a lotação, a chuva ácida alagou a cidade, o prefeito xingou o cidadão de vagabundo, os jogos de futebol continuam a começar às 10 da noite, o céu da cidade é cinza e seus prédios também, de tanta sujeira.

O calor sufoca e nem temos praia para nos refrescarmos, a bateria de escola de samba não toca mais samba, o pedestre não atravessa a rua sem ser quase atropelado, as modelos anoréxicas morrem por culpa do padrão de beleza magérrimo que é imposto à elas. Imposto, aliás, que não pára de subir.

A juventude volta à idade das pedras nos primeiros dias de aula nas faculdades. Trote: um bando de babacas com problemas de auto-afirmação pegando pesado com um bando de trouxas que se submetem à humilhação. Nada muda nos quatro anos seguintes: o aluno sai especializado em bebedeiras, festas e futilidades.

Bolivianos já assaltam os paulistanos. Até mulher grávida é alvo. Daqui a pouco, vão entrar para o PCC. A polícia é do mesmo nível: malvada, suja, inescrupulosa. Vivemos no meio de gente mal-intencionada. Confie em seus amigos e em mais ninguém. Ninguém vale o prato que come neste mundo cão.

Os carros poluem. Nossos rios estão sujos e nossos riachos, encanados. Encanado também está o trabalhador, que só se fode na mão do patrão. O empregado mal consegue pagar suas contas. O patrão não esquenta a cabeça. Está passando férias na Costa Brava, Espanha, mesmo lugar onde Cicarelli fez suas travessuras.

Um motoboy tira uma fina de uma senhora, que xinga. Ao seu lado, uma mulher com uma criança no colo quase cai para trás, de susto. Na esquina adiante, cai uma viga, de um prédio em construção, na cabeça de uma criança. Morte, fatalidade. Para o governo é bom, um a menos para alimentar, para dar educação, saúde... Na verdade, se a criança não morresse, iria dar no mesmo: ficaria sem as condições básicas de sobrevivência do mesmo jeito.

Quem não busca a vida, quem não busca viver a vida, de fato, apenas sobreviverá. Neste cenário caótico aqui ilustrado. Agora, se você quiser viver...

Nenhum comentário: