quarta-feira, março 29, 2006

O tudo, o nada e o algo

Quando o nada torna-se algo
Este algo torna-se tudo
E tudo para uns
Pode ser nada para outros

Mas nada já é algo
Ao ser alguma coisa
Porque a ausência já não é nada
E sim algo
Algo não muito palpável
Algo não muito sensível
Mas algo

E algo me diz
Que este nada primordial em minha mente
Já virou palavras e mais palavras

Nada me faz parar
Tudo me faz continuar
Até que algo possa me mostrar
Que o tudo e o nada
São a mesma coisa
Nada mais do que
Duas faces da mesma moeda

sexta-feira, março 24, 2006

Um gringo no Maracanã

John Man chegou ao Rio de Janeiro cheio de expectativas. Iria conhecer o Maracanã, a imensa torcida do Flamengo e o futebol pentacampeão. Era domingo. Pegaria um solzinho pela manhã e a tarde iria para o jogo. Tudo certo.

Conforme a tarde avançava, ele começou a estranhar a falta de movimento na região do estádio. Esta hora, as ruas deveriam estar cheias, o transito deveria estar caótica. A cidade deveria estar parada, mas não estava. O que estava acontecendo?

Sem entender nada, Mr. Man pegou um táxi em direção ao estádio. Ao chegar, viu um punhado de torcedores de verde e outro punhado vestido de amarelo, vermelho e azul. Comprou o ingresso e entrou. O estádio estava quase vazio. O gringo então perguntou para a velhinha vestida de verde:

— Where’s Flamengo? Where’s Fluminense? Fla-Flu? Where?

A mulher fitou o gringo e rebateu:

— Olha, meu senhor eu não sei do que você está falando mas o negócio de time grande aqui acabou. Tão tudo no buraco. Hoje a semifinal da Taça Rio é Cabofriense e Madureira.

O gringo estava mais perdido que agulha no palheiro. Madureira e Cabofriense não eram palavras comuns para ele.

— Madureira? Where is Flamengo?

Nisso, um torcedor sentado atrás colocou a mão no ombro de Mr. Man e setenciou:

— Flamengo is over, man. Go tell it on the island.

E lá foi o gringo para Londres contar que no Rio o futebol acabou. E que hoje o Maracanã é um campo de várzea, mesmo quando é palco de final de Carioca.

Brasileiros e Franceses

Enquanto os estudantes franceses ocupam a Sorbonne, os estudantes brasileiros tomam cerveja, Jurupinga, Coca-Cola com pinga, fumam maconha e cheiram B-25.

Na França, há livrarias perto das universidades, no Brasil há bares.

Em Paris, os estudantes são cultos. Em São Paulo, são alienados.

Brasileiro não se preocupa com o futuro, só bebe. E assim, nosso futuro será bebido em doses de Jurupinga pela fútil juventude.

terça-feira, março 21, 2006

Geraldo Presidente?

Finalmente o PSDB definiu seu candidato à presidência da República. Depois de um embate ferrenho, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, venceu a disputa com o prefeito de São Paulo, José Serra. Se o candidato fosse o Serra, a prefeitura da cidade ficaria nas mãos de Gilberto Kassab, do PFL. Deus nos livre!! Agora, Serra tem poucos dias para decidir se fica com a prefeitura ou se concorre à governador do Estado (é favorito nas pesquisas).

Geraldo Alckmim enfrentará Lula e seu fracassado governo. Toda a esperança de mudança com Lula já era. Agora, os dois candidatos terão de enfrentar a desconfiança geral dos eleitores. Ninguém mais agüenta estes governantes que são farinhas do mesmo saco.

Mas no segundo turno teremos Lula x Geraldo. E aí?

Lula fez um governo meia-boca da mesma maneira que Geraldo no Estado de São Paulo. Por mais que São Paulo tenha crescido e tenha evoluído em determinadas áreas, Geraldo não acabou com as duas maiores vergonhas do Estado: a FEBEM e as péssimas escolas estaduais. Não posso acreditar que a FEBEM continue a mesma vergonha. Não consigo votar em alguém que fez com que as escolas continuassem a ser um grande lixo.

Desculpa aí, Geraldo, mas você não é o cara pra governar meu país.

Ronaldinho Gaúcho, o mago da bola


O que ele faz com a bola é o que Mozart fazia com as notas musicais. O que ele faz, a partir de sua chuteira dourada, é o que Picasso fazia a partir de seu pincel. O que Ronaldinho faz dentro de quatro linhas é o que um equilibrista faz sobre uma corda bamba: dá show.

É impressionante como é técnico e habilidoso o nosso craque. Os mais velhos já o colocam acima de Zico e no mesmo patamar de Maradona e Garrincha, abaixo apenas de Pelé. Eu digo que ele fica abaixo apenas do Rei e do Mané.

Os argentinos que me desculpem, mas o “pibe de oro” nunca encantou tão intensamente quanto o Gaúcho. Maradona, inclusive, jogou, mais ou menos com a mesma idade, no Barca. Não brilhou nem perto do que o brasileiro brilhou. Maradona batia com um pé, Ronaldinho bate com os dois. Maradona fracassou em três Copas, Ronaldinho jogou uma e ganhou uma. Maradona é argentino, Ronaldinho é brasileiro.

Ronaldinho já ganhou uma Copa e deve arrebentar nesta. A facilidade que ele tem para controlar a bola é incrível. Consegue dominá-la num pequeno espaço e cercado por cinco adversários. Dá toques de calcanhar como se tivesse um olho na nuca. Sua chapelaria também funciona muito bem. Seu chute tem o veneno que apenas craques da linhagem de Didi têm.

Esta é sua Copa. Ronaldo jogará muito (principalmente contra a Espanha e a França, calando Madri e Platini) e seu nome ficará (mais) imortalizado. Kaká vai fazer juz ao título de “Bambino D’oro” (principalmente contra a Itália). Adriano, Robinho e cia também irão explodir. Mesmo assim, o mundo só terá olhos para Ronaldinho Gaúcho. E ele não nos decepcionará.

A língua portuguesa agora tem museu

Museu da Língua Brasileira

Ao contrário do que a maioria dos brasileiros pensa, foram os negros, e não os portugueses, que difundiram a língua portuguesa em solo brasileiro. Os primeiros colonizadores que aqui chegaram logo aprendiam a falar o tupi para se comunicar com os índios. E por muitos anos a língua falada no Brasil era predominantemente tupi.

A partir do momento em que foi introduzida a mão de obra escrava aqui, a língua portuguesa começou a se difundir. Por quê? Simples, como os escravos vinham de diferentes partes da África e cada um falava um dialeto, eles aprenderam o português para se comunicarem. E assim o português se alastrou país afora até substituir de vez o tupi.

No Brasil, a língua portuguesa se desenvolveu de uma maneira própria. Por ser um país de extensões continentais, surgiram diversas maneiras de se falar o português “brasileiro”. No Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Rio, no Nordeste, cada um à sua maneira.

E foi justamente no Brasil que surgiu o primeiro Museu da Língua Portuguesa. Situado na luxuosa Estação da Luz, já é tido como uma referencia mundial. Tanto é que o prefeito de Lisboa já manifestou a idéia de fazer um museu lá em Portugal.

O interessante é notar que este museu é inaugurado em um momento em que a língua portuguesa é fortemente maltratada pelos jovens. O brasileiro, que já falava mal, começou a utilizar vícios de linguagens terríveis como o gerundismo (“Eu vou estar fazendo algo...”) e a falta de pural (“Os cara não sabe o que faz...”).

O pior ainda é o internetês. “Vc jah viu q o pessoal escreve de que maneira?” É cada vez mais usual. A desculpa é que assim economizam na escrita. Vá, vá... Me recuso a escrever “vc”. Mesmo que o “v” esteja ao lado do “c”. Os mais jovens que cresceram com Internet, MSN e, mais recentemente, Okut, escrevem terrivelmente mal. E até nas redações escolares isto já se reflete.

Falta livros para esse Brasilzão. Porque desta maneira a língua portuguesa bem escrita só se verá no museu.

Mudanças

Como recebi algumas críticas porque eu só estava falando de samba, resolvi me pautar. Assim, diariamente escreverei sobre política, esportes, cultura, cidades, sociedade e etc... Leiam e comentem (se quiserem, podem descer a lenha). Abraços e beijos.

sexta-feira, março 17, 2006

Carta de boas vindas

Bem-vindo ao mundo, Pedro. Que você siga o caminho de paz, amor, sabedoria de seus pais. Que sua vida seja repleta de graça. Sua luz está acesa e há muito o que se queimar pela frente.

Você já nasce bamba, meu querido. A semente germinou em um ambiente muito fértil. Um ambiente com muita alegria, paz, amor, cultura. E muita música... Bamba no samba e na vida, Pedrão.

Fortes e emocionadas congratulações do Tio André

quinta-feira, março 09, 2006

Matutando

Sentar pra escrever é como deitar na cama para dormir. A diferença é que na cama as palavras vêm mais fácil. Brotam na mente e se espalham. Às vezes, estas palavras causam bastante inquietação. Trazem sentimentos e emoções que não deixa dormir. Para escrever ao léu, você tem de ficar olhando para esta folha branca.

Gosto de ficar matutando. Pensando horas e horas naquela moça ou na vitória do meu time sobre o rival. Ficar deitado na cama de olho fechado escutando um chorinho ou um jazz. Os pensamentos voam. E com eles voam muitas lembranças gostosas dessa doce vida.

sexta-feira, março 03, 2006

Minha História Oral de Nosso Tempo. Cap. II

24/02/2006

—Eu não sou stalinista, eu sou seguidor dos ensinamentos de Rosa de Luxemburgo
— Já eu sou leninista, estou na luta há anos.
— Ah, eu sou marxista, puramente.

CONTEXTO:

Estávamos eu e o Iuri num boteco na Bela Vista na sexta-feira de Carnaval (coisa da Globo, que tem de passar o desfile de São Paulo), depois decompormos um belo samba sincopado quando eu escutei esta conversa. Só pude rir.

MINHA INTERPRETAÇÃO:

A “luta” virou papo de boteco. Não há espaço para se fazer revolução nesta sociedade tão amarrada em valores capitalistas. Os personagens da discussão se empolgavam nas discussões, se empolgavam ao falar das diferentes linhagens do marxismo.

Marx viveu numa época totalmente diferente da nossa. Aqueles jovens de outrora eram muito diferentes dos de hoje em dia. Atualmente, os jovens só querem saber de se embriagar. A “luta” apenas mais um papo de boteco, como é o futebol, a política tucano-lulista e outras banalidades. Eu já superei esta fase. Ao invés de ficar sonhando, canto meu partido alto. Aliás, há tempos que eu acredito que o caminho para um mundo melhor se dará através da cultura e não da política.

É claro que eu continuo a ter valores socialistas. Afinal todos com um mínimo de decência gostariam de ver um mundo mais justo. Mas ficar discutindo Rosa de Luxemburgo no boteco é pura punhetagem ideológica. E pior, punhetagem ideológica para nada, sem poder criar alicerces para que uma nova sociedade floresça. Um povo mal-educado e aculturado nunca fará nenhuma revolução.

-/-


Na vitrola do Piruca:

Samba de Montão

Paguei cincão nesta bolacha que não existe em CD. A capa é um negão com um pandeiro e duas criolas ao lado. Na contra-capa aparece o Mussum com aquele baita sorriso e um reco-reco na mão.

O que me chamou atenção no disco foram os ótimos compositores que cantam nesta gravação ao vivo numa quadra de escola de samba: Roque do Plá, Luiz Grande, Wilson Moreira, Walter Rosa, Jurandir da Mangueira, Mano Décio da Viola, Jacyr da Portela, Ary do Cavaco entre outras feras.

A faixa 1 do lado B é um samba clássico, até João Nogueira regravou.

Corcoviei (Luiz Grande)

Corcoviei
Saltei de banda e fiquei miudinho
Me escorreguei e saí de fininho
Eu esqueci que na cana tem nó
Fui convidado por Dona Didi
Pra curtir um barato na sua caxanga na Boca do Mato
Mas quase fecharam o meu paletó

Estava na minha tomando uma cerva
E comendo ciscante
Chegou um negão todo ignorante
Ela toda sem graça: “Esse é meu marido”
A salvação é que eu não sou bobo
E aprendi na Bahia
Jogar capoeira com estratégia
Se não meu cumpádi, estava perdido

Cabe lembrar que o produtor do disco foi Edson Menezes, que produziu vários discos da TAPECAR. Sempre discos ótimos de partido alto ou sambão nervoso.

A melhor faixa é a que cabe ao gênio (não reconhecido por esta sociedade que cultua o lixo) Wilson Moreira. Samba de primeira categoria.

No talho da Madeira (Wilson Moreira)

Madeira de lei
Madeira dá leite

Ô madeireiro acostumado no lenhado
Bom no cabo do machado a chorar no mato
Uma madeira que no talho dava leite
Se você não sabe, pergunte ao madeireiro
Se quiser saber, pergunte ao lenheiro
Se você não sabe, pergunte ao madeireiro
Se quiser saber, pergunte ao lenheiro

Madeira de lei
Madeira dá leite

Eu conheci um madeireiro voluntário
Que na hora do trabalho só levava a sério
Essa historia de madeira que dá leite
Se você não sabe, pergunte ao madeireiro
Se quiser saber, pergunte ao lenheiro
Se você não sabe, pergunte ao madeireiro
Se quiser saber, pergunte ao lenheiro

Madeira de lei
Madeira dá leite

O madeireiro dá no talho da madeira
E no toque do machado só se espalha leite
Não há motivos pra ficar admirado
Se você não sabe, pergunte ao madeireiro
Se quiser saber, pergunte ao lenheiro
Se você não sabe, pergunte ao madeireiro
Se quiser saber, pergunte ao lenheiro

Ô discão bão!!!!

Palavras errantes

Mais uma vez faltam-me palavras
Mais uma vez escrevo ao léu
Como uma nuvem no céu
Como um barco navegante
Ou um andarilho errante
Que segue sem destino
Sem ficar pensando no amanhã
Apenas vive intensamente
Renascendo a cada manhã

E pra que fazer diferente?
As palavras já estão sendo escritas
Já se perdeu de vista o barco
Que navega sem rumo

Como um pássaro a voar
Escrevo estas linhas
Sempre a sorrir
Como uma onda no mar
Palavras, melodias e emoções
Começam a me invadir

Mas uma vez as palavras vieram
Trazendo inspiração
E assim vou versando
Rimando e cantando
Os mais preciosos momentos
Guardados no tempo
Sempre escutando o coração
Cantar, resgatar, valorizar
Esta é a minha missão

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Na vitrola do Piruca:

Paulinho da Viola – Memórias Chorando


Um disco de choro maravilhoso onde Paulinho mostra todo o seu virtuosismo de solista. Tanto no cavaco como no violão, ele faz bonito. Os acompanhantes não deixam por menos: Copinha, César Faria, Cristóvão Bastos. Elton Medeiros, Chiquinho (seu irmão mais novo, bandolinista) e outros.

Este pessoal é mesmo que tocou no Memórias Cantando. De primeiro escalão.

Destaque para as composições de Paulinho da Viola. Pra quem pensava que ele era bom de samba, vai ver que ele é um gênio do choro, tanto na composição quanto na interpretação. Há choros exclusivos para violão. Um deles (Rosinha, essa menina) é no melhor estilo do Canhoto da Paraíba, um choro ao modo nordestino.

Um disco indispensável para quem é amante do choro