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terça-feira, março 29, 2011

Viver? Morrer lentamente

"Se você treme de indignação perante a uma injustiça no mundo, então somos companheiros" (Che Guevara)


Se um dia não me indignar com as injustiças do mundo. Daí então não poderia fitar-me no espelho. Não poderei descansar o banal sono dos mortais. Não poderei sentir, não poderei chorar e nem tampouco sorrir. Simplesmente serei mais um pobre cidadão que vaga pelo mundo sem ideologia, sem filosofia, sem ideal.

Se um dia não mais sentir um aperto no peito ao me deparar com a exploração, serei eu também um explorador. Se não mais me incomodar a opressão, serei também um opressor.

Se for pra viver assim, é vida? Fechar os olhos diante das espoliações não nos faz cego, pois o cego é aquele que não pode ver e não o que não quer ver. Este tem outro nome, que não cabe poesia, nem palavras a se ofertar.

É viver? Saber que ao lado mora tanta desigualdade e nada fazer? É morrer lentamente.




arte: Banksy

sexta-feira, novembro 28, 2008

Essa gente amiga do samba sabe o que ouvir


Uma das minha grandes diversões das últimas semanas é ficar acompanhando o número de pessoas que baixam os discos que eu posto no Prato e Faca. Muitos dos álbuns lá postados o foram feitos através do Rapidshare, que não nos mostra o número de usuários que baixam os arquivos, ao contrário do Mediafire, que utilizei por alguns meses e que voltei a utilizar agora.

Desde que voltei a usar este último hospedador de arquivos, fico sempre de olho no número de downloads que cada disco tem. E o campeão disparado (dentre os discos hospedados no Mediafire) é o Axé! Gente amiga do samba, do Candeia. Há duas semanas, tomei um susto quando vi que, desde abril, oitocentas e sessenta pessoas haviam baixado a obra-prima. Hoje o número já ultrapassou os novecentos... Se levarmos em consideração que o disco é muito difícil de encontrar nos sebos (e caro) e jamais foi relançado em CD (e esse fosse, certamente a tiragem não ultrapassaria o número de mil cópias), isso é algo louvável. Não pra mim, mas pra eles. Estes novecentos brasileiros que foram atrás de um disco impecável, digno da obra do mestre Antonio Candeia Filho.

Eles não compraram o CD do Candeia porque ele não existe. Os antigos selos que lançavam, todos os anos, diversos títulos de extrema qualidade das mais variadas vertentes da Musica Popular Brasileira, hoje pertencem a grandes gravadoras multinacionais que não estão nem um pouco interessadas em relançar álbuns antigos de pouco (ou zero) valor comercial. Eles querem retorno e o que dá retorno é coisa nova, vendável, comercial, que está na boca do povo. Quase sempre isso é lixo, e nosso tesouro fica lá empoeirado em algum sebo, esperando que alguém vá lá fazer uma correria (comprar o disco, limpar, ripar, jogar no computador, transformar em mp3, colocar todas as informações, subir pra rede e, ufa, postar no blog. Isso chama trabalho voluntário socialista.

E graças a essas contribuições de diversos blogs, nossa cultura vai resistindo. Nossa música é de todos. Viva o acesso livre à cultura.

sábado, maio 17, 2008

A vida é um jogo de bola


A vida como reflexo de nossos sentimentos e nossas emoções só poderia ser um jogo de futebol. Com suas sutilezas e adversidades. Com suas glórias e desilusões. Com explosões de alegria. Com momentos de pura amargura, como quando sofremos um gol nos instantes finais de um clássico, proporcionando a vitória do time rival. Na vida também temos momentos de falsa euforia como num gol anulado.


A vida como um espelho de nossos anseios só poderia ter como palco um estádio lotado, com suas bandeiras tremulando e com milhares de pessoas com o coração na mão. Nossos sonhos vão se realizando na medida em que os gols vão acontecendo. Às vezes fazemos belos gols, driblando toda a zaga e só colocando na saída do goleiro. Às vezes acontecem gols contra, furada, e até mesmo cartão vermelho.


Viver é jogar. E existem vários tipos de jogos, como no futebol. Jogos importantes mas não decisivos, como na primeira fase de uma competição. Há momentos na vida em que é preciso matar ou morrer, como nos mata-matas. E existem também, claro, jogos para cumprir tabela. Tudo isso acontece na vida.


A vida que se traduz num gramado é a vida do brasileiro. Porque fora dos campos, em qualquer lugar e em qualquer instante, no imaginário de nossos conterrâneos, a bola rola macia, deslizando mansamente em direção ao gol. E quando, finalmente, toca a rede, gozamos de alegria. É a magia do futebol conduzindo nosso viver.


Foto: Estádio do Nacional A. C., da Barra Funda - O fotógrafo sou eu.

quinta-feira, outubro 04, 2007

Vida de escritor

Vida de escritor não é fácil, não. Até pode ser, se você escrever esporadicamente. Mas a partir do momento que você têm uma meia dúzia de leitores, tá na lama. Você se cobra porque precisa escrever e seus leitores te cobram porque querem ler seus novos textos: “André, faz tempo que você não escreve nada lá no Idéias de Improviso, né?”. “É, faz tempo...”.

Para escrever é necessária uma idéia boa, que tenha fluência, que tenha vida. Quantas vezes eu sentei na frente do computador ou peguei um lápis querendo escrever algo e nada saiu? Muitas... Outras tantas vezes, tive idéias maravilhosas, mirabolantes, mas nada escrevi porque não era possível naquele momento. Semana passada, estava tomando uma cerveja com os amigos e veio uma idéia sensacional em minha mente. Na hora eu pensei: “Taí, amanhã vou postar isso no Idéias.” Porém, quando acordei... Não lembrava de absolutamente nada (e até hoje não lembro)...

Teve uma época que eu anotava as idéias num papelzinho para desenvolvê-las depois. Mas não é a mesma coisa. A inspiração vem de sopetão. O negócio é aproveitá-la na hora porque depois não é a mesma coisa. O texto pode até sair, mas não tem aquela vivacidade que teria se fosse feito na hora do estalo.

Essa necessidade de escrever fez com que várias vezes eu escrevesse sobre as palavras, sobre a arte de escrever. Outro dia, pensei em postar um texto que eu escrevi no papel, falando sobre como é bom escrever a mão, com lápis ou caneta. Gostei do texto, mas não teria sentido nenhum passar para o computador já que ele só tem sentido se lido no papel.

Pode crer que se você ler algum texto meu falando sobre essas divagações, é porque eu estava sem idéia (como é o caso agora. Não tinha nada pra escrever, mas precisava escrever)...
E veja só como são as coisas... Eu não tinha nada pra dizer, mas já estou no sexto parágrafo e você continua lendo essas mal-traçadas linhas...

A falta de idéias sobre o que escrever fez com que eu escrevesse justamente sobre isso. É papo de louco, mas tem um monte de louco que lê isso aqui e entende essa abrobinha toda... Às vezes, até se identificam...

Vida de escritor é assim.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

A menina levada e a censura


“Pô, eu uso Youtube para ver gols e lances polêmicos de futebol. Sou jornalista. Por causa de uma trepada de uma sem-vergonha, eu vou ficar privado de usar um site que me auxilia no meu trabalho?”. Como tantos, um amigo meu jornalista também se indignou ao ver o Youtube, site de compartilhamento de vídeos, fora do ar por causa de uma ação movida pelo namorado de Daniela Cicarelli.

Tudo começou quando, Daniela, muito fanfarrona, transou com seu namorado em uma praia da Espanha. Estando em um lugar público e sendo uma personalidade famosa (ela é ex-mulher de um dos maiores ídolos de lá, o nosso Ronaldo Fenômeno), ela estava sujeita às ações de um paparazzi qualquer. E foi o que aconteceu. Um cinegrafista captou as imagens e logo o mundo inteiro via as imagens na Internet.

O namorado da moça, Tato Malzoni, tratou de entrar na Justiça para retirar os vídeos de rede. Algo impossível já que em poucas horas o vídeo já se difundira como um vírus por todo mundo. No começo do ano, o juiz Lincon Antônio Andrade Moura, determinou que todos os sites que abrigassem o vídeo o tirassem do ar. Como no Youtube, isto é impossível, ele determinou que tirassem o Youtube do ar. Ou seja, censurou. Pela primeira vez em nossa história, a Internet foi censurada. Tudo por causa de uma farra de dois jovens inconseqüentes.

A Brasil Telecom e a Telefonica tiraram o Youtube do ar, privando muitas pessoas de trabalharem, como os jornalistas que dependem do Youtube para verem gols... A situação logo voltou ao normal, com o Youtube voltando a funcionar. Mas a polêmica ficou: este ato de censura abrirá novos precedentes?

Para quem não conhece (algo raro nos tempos de hoje), o Youtube é um site onde você pesquisa vídeos. Lá tem vídeo de programa de televisão antigo, trechos de filmes, vídeos amadores, vídeos de situações como a que viveu a apresentadora da MTV... Tem também, muitos e muitos vídeos de futebol. Para quem é boleiro é o paraíso. Você revê aqueles lances históricos do seu time... Vê gols de importantes finais... Vê tudo o que você imagina e tudo o que você nem imagina que vai ver. Outro dia, vi gols de todas as finais da Champions Legue desde 1981.

O Youtube é o site mais acessado do mundo. Tanto é que foi vendido para o Google pela bagatela de 1 bilhão e 650 milhões de dólares. Incomoda muita gente com seus vídeos, principalmente a indústria fonográfica e os estúdios de cinema, que não gostam de ver seus produtos disponíveis gratuitamente. Apesar disso, nenhum outro juiz do mundo mandou censurar o site. E olha que tem coisa bem pior do que o vídeo da Cicarelli por lá. Por exemplo, as imagens da execução de Saddam. Mas nós, brasileiros, por pouco não ficamos privados de ver o site. Tudo por causa de uma menina mimada que não que ninguém veja suas travessuras na praia.

quinta-feira, julho 20, 2006

Marcola, Geraldo e outros bandidos

Vivemos num período pós-Copa e pré-eleições.
Neste meio tempo, temos a guerrilha urbana.
O careca fala que é culpa dos vermelhos.
Os vermelhos (um tanto desbotados, quase cor-de-rosa) culpam os verdadeiros culpados.
Culpados estes que governam o estado há tanto tempo.

E essa fase de terror te assusta?
Te deixa amedrontado em casa?
Faz você repensar suas atitudes?
Eu não.

Para mim existem vários tipos de criminosos.
Os do Primeiro Comando da Capital são os mais inofensivos.
Fazem alarde, mas são anjos pertos dos bandidos do Comando da Capital do Brasil.

Fogo no ônibus não é pior do que descaso com educação
Banco metralhado não é pior do que fome generalizada.

O Marcola não é pior do que nossos "honestos" políticos.

Burgusia fétida, tremei de medo.
Vocês vivem enjaulados
Vivem numa ilusão
Vivem de olhos fechados.

Abram logo
Pode ser tarde demais.

sexta-feira, abril 07, 2006

Jair e as flores

“Quando eu passo perto das flores
Quase eles dizem assim
Vai que amanhã enfeitaremos o seu fim”

É, seu Jair, esse samba seu e do Nelson é antigo. Seu parceiro se foi e teve as flores em vida. Agora você também foi. As flores que enfeitam seu fim alegraram sua vida.

Que honra tive eu de poder te conhecer, Jair. Nunca me esqueço daquele dia em que você me falou sobre a Portela antiga. Pois é, você era o sócio número 1, o mais velho da Velha Guarda, contemporâneo do Mestre Paulo. E ainda assim, atravessou o século, chegando até este fatídico 6 de abril de 2006, o dia em que finalmente as flores enfeitaram seu fim.

Escutei muito você nestes últimos dias. Você já estava internado, mas eu não sabia... Nestes dias escutei muito “Os Cinco Crioulos”. Neste instante mesmo escuto você cantando o samba “Vaidosa” do Herivelto Martins. Estou triste pela sua ida, Jair. Gosto muito dos seus sambas, da sua palhetada (a mais veloz do samba, segundo Jacob do Bandolim), da sua voz...

Você se foi. Mas foi um vencedor. Um negro pobre e suburbano normalmente não consegue se consagrar. Apenas os boleiros e os grandes sanbistas como vocês, da gloriosa Velha Guarda da Portela, que agora está de luto. Você venceu já nos anos 60, quando integrou o “Rosas de Ouro”, o “Voz do Morro” e o “Cinco Crioulos”. Estes conjuntos resgataram o samba e você fez parte dessa época histórica.

Já velhinho, gravou o seu único disco solo. Você e seu cumpádi Argemiro. Ambos esperaram a consagração final antes de darem seus suspiros finais.

Mas tudo bem. Tem muita gente bamba aí com você, aí em cima. Você vai rever o Paulo, o Alvaiade, o João da Gente e toda a turma da Portela, o Nelson, o Cartola, o Mauro, o João Nogueira, o Silas, o Mano Décio... O pagode deve estar caprichado. Vai lá. Pega seu cavaquinho, chega na roda de mansinho, com seu miudinho, e capricha na palhetada. Aqui, as flores enfeitam seu fim e a saudade já é enorme.

terça-feira, março 21, 2006

Geraldo Presidente?

Finalmente o PSDB definiu seu candidato à presidência da República. Depois de um embate ferrenho, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, venceu a disputa com o prefeito de São Paulo, José Serra. Se o candidato fosse o Serra, a prefeitura da cidade ficaria nas mãos de Gilberto Kassab, do PFL. Deus nos livre!! Agora, Serra tem poucos dias para decidir se fica com a prefeitura ou se concorre à governador do Estado (é favorito nas pesquisas).

Geraldo Alckmim enfrentará Lula e seu fracassado governo. Toda a esperança de mudança com Lula já era. Agora, os dois candidatos terão de enfrentar a desconfiança geral dos eleitores. Ninguém mais agüenta estes governantes que são farinhas do mesmo saco.

Mas no segundo turno teremos Lula x Geraldo. E aí?

Lula fez um governo meia-boca da mesma maneira que Geraldo no Estado de São Paulo. Por mais que São Paulo tenha crescido e tenha evoluído em determinadas áreas, Geraldo não acabou com as duas maiores vergonhas do Estado: a FEBEM e as péssimas escolas estaduais. Não posso acreditar que a FEBEM continue a mesma vergonha. Não consigo votar em alguém que fez com que as escolas continuassem a ser um grande lixo.

Desculpa aí, Geraldo, mas você não é o cara pra governar meu país.

Ronaldinho Gaúcho, o mago da bola


O que ele faz com a bola é o que Mozart fazia com as notas musicais. O que ele faz, a partir de sua chuteira dourada, é o que Picasso fazia a partir de seu pincel. O que Ronaldinho faz dentro de quatro linhas é o que um equilibrista faz sobre uma corda bamba: dá show.

É impressionante como é técnico e habilidoso o nosso craque. Os mais velhos já o colocam acima de Zico e no mesmo patamar de Maradona e Garrincha, abaixo apenas de Pelé. Eu digo que ele fica abaixo apenas do Rei e do Mané.

Os argentinos que me desculpem, mas o “pibe de oro” nunca encantou tão intensamente quanto o Gaúcho. Maradona, inclusive, jogou, mais ou menos com a mesma idade, no Barca. Não brilhou nem perto do que o brasileiro brilhou. Maradona batia com um pé, Ronaldinho bate com os dois. Maradona fracassou em três Copas, Ronaldinho jogou uma e ganhou uma. Maradona é argentino, Ronaldinho é brasileiro.

Ronaldinho já ganhou uma Copa e deve arrebentar nesta. A facilidade que ele tem para controlar a bola é incrível. Consegue dominá-la num pequeno espaço e cercado por cinco adversários. Dá toques de calcanhar como se tivesse um olho na nuca. Sua chapelaria também funciona muito bem. Seu chute tem o veneno que apenas craques da linhagem de Didi têm.

Esta é sua Copa. Ronaldo jogará muito (principalmente contra a Espanha e a França, calando Madri e Platini) e seu nome ficará (mais) imortalizado. Kaká vai fazer juz ao título de “Bambino D’oro” (principalmente contra a Itália). Adriano, Robinho e cia também irão explodir. Mesmo assim, o mundo só terá olhos para Ronaldinho Gaúcho. E ele não nos decepcionará.

A língua portuguesa agora tem museu

Museu da Língua Brasileira

Ao contrário do que a maioria dos brasileiros pensa, foram os negros, e não os portugueses, que difundiram a língua portuguesa em solo brasileiro. Os primeiros colonizadores que aqui chegaram logo aprendiam a falar o tupi para se comunicar com os índios. E por muitos anos a língua falada no Brasil era predominantemente tupi.

A partir do momento em que foi introduzida a mão de obra escrava aqui, a língua portuguesa começou a se difundir. Por quê? Simples, como os escravos vinham de diferentes partes da África e cada um falava um dialeto, eles aprenderam o português para se comunicarem. E assim o português se alastrou país afora até substituir de vez o tupi.

No Brasil, a língua portuguesa se desenvolveu de uma maneira própria. Por ser um país de extensões continentais, surgiram diversas maneiras de se falar o português “brasileiro”. No Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Rio, no Nordeste, cada um à sua maneira.

E foi justamente no Brasil que surgiu o primeiro Museu da Língua Portuguesa. Situado na luxuosa Estação da Luz, já é tido como uma referencia mundial. Tanto é que o prefeito de Lisboa já manifestou a idéia de fazer um museu lá em Portugal.

O interessante é notar que este museu é inaugurado em um momento em que a língua portuguesa é fortemente maltratada pelos jovens. O brasileiro, que já falava mal, começou a utilizar vícios de linguagens terríveis como o gerundismo (“Eu vou estar fazendo algo...”) e a falta de pural (“Os cara não sabe o que faz...”).

O pior ainda é o internetês. “Vc jah viu q o pessoal escreve de que maneira?” É cada vez mais usual. A desculpa é que assim economizam na escrita. Vá, vá... Me recuso a escrever “vc”. Mesmo que o “v” esteja ao lado do “c”. Os mais jovens que cresceram com Internet, MSN e, mais recentemente, Okut, escrevem terrivelmente mal. E até nas redações escolares isto já se reflete.

Falta livros para esse Brasilzão. Porque desta maneira a língua portuguesa bem escrita só se verá no museu.

domingo, fevereiro 26, 2006

No Carnaval 2

Volto a escrever sobre o carnaval com samba de verdade na TV Cultura. Foi só falar que eu ia escutar um CD da Cristina que ela surgiu. E surgiu no coro da Teresa Cristina. E fez um dueto com ela no samba da Velha Guarda da Portela, Se tu fores na Portela. O arranjo musical do show da Teresa é perfeito: uma roda de samba. Eu não consigo entender de onde vem a idéia de colocar baixo e bateria no samba.

Mas o melhor veio depois. Uma roda de samba típica, com cerveja gelada e tudo, com Zézinho do Morro, Talismã, Zeca da Casa Verde, Geraldo Filme e Silvio Modesto.Só os sambistas dantiga de São Paulo. Linda poesia, linda melodia, energia do samba total. Não se deve levar em consideração a afirmação de Vinicius de Morais de que São Paulo é o tumulo do samba. Ele não sabe muito a respeito de samba. Falou até que o samba era baiano e não carioca. Devia estar um tanto bebo de uísque.

São Paulo tem sambistas de primeira. Como Germano Mathias e Oswaldinho da Cuíca que tocaram depois. Mas logo vieram os malas do Quinteto em Preto e Branco. Se acham muito para o que eles chão. Deviam ficar em seus lugares ao invés de ficar pedindo palmas e coros. Nota-se que suas composições são fortemente influenciadas pelo pessoal do “pagode” do Cacique. Lamentável. Os irmãos brancos, de Santo Amaro, deveriam freqüentar o Morro das Pedras. Preferem ficar nesta de tocar “pagodinho”.

Felizmente a noite de samba seguiu com mais samba de primeira: Dona Ivone Lara e Bezerra em shows recentes do Bem Brasil. Não preciso discorrer sobre estes dois sambistas. São lendas. E com samba se fez mais um sábado de Carnaval.

No Carnaval

“No Carnaval, não vou mais sair sorrindo...” dizia Elton Medeiros. Com razão. Ainda mais agora que os desfiles das escolas de samba viraram, assim como o futebol, mais um produto da Globo.

O carnaval do luxo e do espetáculo não se faz mais com samba. Existe tudo nos desfiles da Globo, menos samba.

E eu em casa num sábado triste de carnaval encontrei uma programação de samba (o verdadeiro!) na Cultura. Logo de cara, um show da rainha Quelé, nossa grande Clementina de Jesus. Quanta diferença entre um samba da antiga com a esculhambação rítmica que se tornou uma escola de samba. No desfile de São Paulo tinha um puxador que falava “Tira o pé do chão!”. Cartola deve ter remexido no túmulo. Para ele um desfile de escola de verdade era aquele que se escutava o arrastar da sandália na avenida.

“Arrasta a sandália aí, morena”
“Arrasta a sandália aí, morena”

E não “Tira o pé do chão”

Os sambas-enredo foram tomando uma forma absurda. Ele tem de ser bem fácil (pobre) para colar na cabeça. E tem de falar de alguma coisa financiável. A Mangueira ganhou quinhentos mil reais do Governo do Ceará para falar sobre o Rio São Francisco. O problema é que o carnaval local é pobre e quase não teve investimento público.

Isso quando os enredos não chegam ao absurdo de homenagear o Beto Carrero, a Xuxa... A Velha Guarda da Portela deve sentir falta do tempo em que se desfilavam com sambas de improviso na avenida. Uma época em que a festa era pobre, mas era brasileira, espontânea. Hoje é apenas mais um produto na estante da Globo. Um produto para ser passado depois da novela (ou do Big Brother), assim como o Campeonato Brasileiro de futebol e o show dos Rolling Stones.

E ao passo que mais um capítulo da degeneração cultural brasileira se escreve neste carnaval de 2006, vejo na televisão a grande Clementina cantando partido alto. Logo depois veio o Black-Out e o Zé Kéti, a voz do morro, emérito compositor portelense.

Black-Out, ou simplesmente Blecaute, é uma figura que se perdeu nos dias de hoje: o cantador de marchinhas. Hoje em dia os nomes do carnaval são outros. Nada de Ary Barroso, Lamartine Babo, Carmem Miranda, Blecaute... Hoje os nomes são Ivete Sangalo, Daniela Mercury e Chiclete com Banana.

Fizeram até um concurso de marchinhas, mas não adianta. Tem coisa que não se muda de um dia para o outro. Os neo-foliões não querem saber de musica boa. Querem pular. “Tira o pé do chão!”. Não brincam mais no carnaval.

E o samba esquecido então, hein? Gente que é lenda do carnaval está esquecida. Nossas velhas guardas esquecidas e o Bono Vox ovacionado na Bahia. O Paulo da Portela no esquecimento e DJs tocando suas pick-ups em pleno Carnaval de Salvador. Até funk vai tocar no Carnaval... E o samba? Só na TV.

Próximo bloco: Zeca Pagodinho e sua turma do Cacique. Escuto bateria e baixo. Poderia ter passado sem essa, Zeca. Gosto mais quando você faz versos de improviso com Paulinho da Viola.

E por falar no Paulinho, acho que ele só sai amanhã, num especial sobre samba de terreiro que a Cultura vai passar as 20 horas. Já vi este programa e vou ver de novo. Chama-se “Enredos”. Muito bom.
//////////

Agoniza mas não morre. E assim vai sobrevivendo nosso samba, filho do maxixe e do batuque, neto da polca, da habanera e do lundu, primo do jongo e do samba de roda. Nossa maior expressão cultural na área musical encontra-se por baixo. A moda é o funk, o axé, a música eletrônica, o forró universitário e até o reggae...

A indústria cultural chegou tarde para o samba. Encontrou seu filho bastardo, o “pagode” (não confundir com a expressão original, que significa festa de samba), e popularizou o gênero errado.

Infelizmente a moçada conhece o grupo Revelação e não sabe nem quem foi o mestre Candeia. Tampouco sabem que existe um gênio, uma lenda viva da música popular brasileira, chamado Wilson Moreira Serra.

Vou encerrar este lamento e ficar apenas curtindo o meu samba. Esse “pagodinho”do Zeca já está me irritando. Vou escutar um CD da Cristina Buarque até que um samba de verdade voltar a invadir a telinha.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Mama Africa


Itália, 1990. A seleção de Camarões bate a Argentina de Maradona no primeiro jogo do Mundial. Depois de mostrar um futebol ousado, comandado pelo veterano Roger Milla, a seleção africana é eliminada, na prorrogação, pela Inglaterra.

EUA, 1994. Novamente Camarões vai para a Copa. Desta vez vai mal, e cai na primeira fase. Já outro país africano, a Nigéria, cai somente na prorrogação das oitavas de final, contra a Itália. Por questão de um minuto, a Itália não foi para a casa mais cedo.

França, 1998. A Espanha cai na primeira fase da competição. O carrasco: o técnico esquadrão nigeriano, que terminou em primeiro do grupo. Nas oitavas de final, entretanto, a Dinamarca arrasou os africanos. Camarões estava em sua terceira Copa seguida, mas novamente não foi bem.

Japão/Coréia do Sul, 2002. Nigéria em sua terceira e Camarões em sua quarta copa seguida não foram bem. Já a estreante seleção de Senegal bateu a França na estréia e, praticando um belíssimo e envolvente futebol, por pouco não alcançou uma inédita semifinal. O gol de ouro turco nas quartas de final acabou com o sonho.

Alemanha, 2006. A Tunísia bate Marrocos pelas Eliminatórias e fica com uma vaga africana. Habitualmente, uma seleção africana árabe sempre garante uma vaga. Ou vai Marrocos, ou vai Tunísia ou vai Egito. Desta vez deu Tunísia. Já as tradicionais seleções de Camarões e Nigéria, ficaram de fora. A sensação da última Copa, Senegal, também não vai. Togo, Costa do Marfim, Gana e Angola estarão lá.

Gana é uma seleção que tem tradição nas categorias de base e no continente africano. Esta classificação já era aguardada há tempos. Costa do Marfim se amparou no talento do atacante Drogba, que atua no Chelsea e impediu a quinta Copa seguida de Camarões, que também tem um astro internacional, o atacante do Barcelona, Samuel Etoo.

Togo foi uma grande surpresa. É um país pequeno, pobre e inexpressivo mas a seleção local fez bonito, deixou o bom time do Senegal para trás e fez a alegria de sua população.

Mas bonito mesmo é ver Angola na Copa. Um país que sofreu com a colonização portuguesa e com uma sangrenta guerra civil que devastou o país. Após poucos anos de relativa paz, a alegria maior: a classificação para a Copa, que, pela primeira vez a Copa terá três países lusófonos.

Brasil, Portugal e Angola se encontrarão na Alemanha em 2006. O Brasil vai atrás do hexacampeonato, Portugal, de um lugar ao sol. Angola, assim como todos os africanos estreantes, já está no céu.

Fique de olho no apito

“Fique de olho no apito/Que o jogo é na raça e uma luta se ganha no grito/ E se o juiz apelar, não deixe barato,/ Ele é igual a você e não pode roubar”. Esta música de Carlinhos Vergueiro já nos alertava para ficarmos de olho no juiz. E nós já ficávamos. Desde que o futebol existe, existe a odiada figura do árbitro (que deveria apenas arbitrar, não julgar). Nas arquibancadas, o único momento em que as duas torcidas gritam juntas é no momento em que o “homem de preto” (hoje em dias colorido) entra no gramado. O coro é um só: “filho da p...”.

Hoje em dia, quando um juiz comete um erro (será mesmo apenas um erro?) a torcida grita: “Edílson, Edílson”. Serão todos os juízes como Edílson Pereira de Carvalho? Desde quando existe esta robalheira no futebol? Não dá pra saber, mas levando em consideração que antigamente o futebol era muito mais amador, acredito que a roubalheira deslavada vem de muito tempo atrás.

Edílson Pereira de Carvalho era um árbitro da FIFA. Ganhava 2500 reais cada jogo apitado. Entrou em um negócio de apostas para ganhar mais dinheiro ainda. Ele fabricava os resultados, ganhava uma comissão e apostadores ganhavam uma bolada. E assim estava ele agindo no Brasileirão. Tinha apitado 11 partidas e feito o resultado em algumas delas. Outras ele não conseguiu. Santos e Corinthians, o último clássico disputado por Robinho era um desses jogos que o juiz não conseguiu roubar. Ele mesmo assumiu.

Eis que surge a nefasta figura de Luis Zveiter, presidente do Supremo Tribunal de Justiça Desportiva e resolve, por conta própria, anular todos os 11 jogos. Um absurdo. Times que tiveram que se desdobrar para ganhar de 12 jogadores (o time adversário mais o juiz), saíram prejudicados.

A arbitragem seguiu errando (ou fazendo placares?) e a cada erro surgia a dúvida: Será que meu time está sendo roubado? Isto sempre existiu, mas existia uma lenda em torno do juiz ladrão, pois nunca se provara nada. Mas agora a história é diferente. Todos os juízes estão sob pressão. Não podem mais errar, o que é humano. Apitam pressionados. Tudo por causa de um (será só ele?) nome: Edílson Pereira de Carvalho.

Onze jogos. Alguns comprovadamente fraudados, outros comprovadamente limpos. Não houve distinção: todos foram anulados por Luiz Zveiter, que como antigamente se fazia na França, reina absoluto e decide, sozinho, o futuro do campeonato.

O campeonato acabou. Tinha tudo para ser ótimo. Casa cheia em muitos jogos, alta média de gols, vários times brigando pelo título... Tudo isso não vale mais. O Corinthians, provavelmente, iria ser campeão. Agora vai ser campeão conquistando pontos que não deveriam ser disputados de novo.

A bola não pára. O campeonato vai acabar, e daqui a 20 anos o nome do campeão estará na história. Mas a história não ira esquecer da vergonha que foi este Brasileirão-2005.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Campanha de Desarmamento Mata Pobre Brasil


Estava participando de uma discussão sobre o desarmamento e um amigo meu mandou uma sugestão. Já que brasileiro gosta tanto de arma... Reproduzo aqui, sua proposta:


ESTOU APROVEITANDO O MOMENTO PARA DIVULGAR A NOVA CAMPANHA CONTRA O DESARMAMENTO...

MATA LADRÃO BRASIL !!!!! (ou seria melhor MATA POBRE BRASIL!!!!)

MINHA PROPOSTA DE LEI É A SEGUINTE...

ARTIGO 1 - NUNCA TIRAREMOS POLÍTICOS COORUPTOS DO PODER (tirando-os estariamos desarmando a população brasileira de sua mais poderosa ARMA contra o pobre).

ARTIGO 2 - SÓ É PERMITIDO O USO DE ARMAS DE FOGO CONTRA OS QUE GANHAM MENOS DE 2 SALÁRIOS MÍNIMOS.

ARTIGO 3 - AO CONTRÁRIO DAS CRIANÇAS CARENTES, AS ARMAS DE FOGO BRASILEIRAS DEVEM ESTAR SEMPRE BEM ALIMENTADAS. E COM BALAS DE PRIMEIRA QUALIDADE.

ARTIGO 4 - É PROIBIDA A MATANÇA DESENFREADA SEM SILENCIADOR APÓS AS 22:00 HORAS.

ARTIGO 5 - DEVIDO A REGRAS INTERNACIONAIS DA ONU, FICAM DESDE JÁ OS MORROS E FAVELAS COMO ÁREA DE PROTEÇÃO DA FAUNA NEGRA DO BRASIL. É PORTANTO PROIBIDO O USO DE ARMAS DE FOGO NESSES LOCAIS. DEVE-SE ESPERAR QUE O POBRE VENHA À CIDADE PARA QUE O EXTERMÍNIO SE LEGITIME E O BURGUÊS TENHA DIREITO AO CHBSB (Comprovante de Homicídio Benéfico à Sociedade Burguesa)

ARTIGO 6 - CADA CHBSB RECEBIDO PELO CIDADÃO BRSASILEIRO DÁ DIREITO A ESTE A ABATER 2% DE SEU IMPOSTO DE RENDA (Já que cada um dos assasinatos reduz o gasto do governo com o povo)

ARTIGO 7 - FICA TERMINANTEMENTE PROIBIDO, DEVIDO À SUA INOFENSIVIDADE, O USO DE BALAS DE FESTIM NAS ARMAS DE FOGO BRASILEIRAS. BALAS DE BORRACHA SÃO PERMITIDAS SE UTILIZADAS CONTRA ESTUDANTES DO ENSINO PÚBLICO. ARMAS DE BOLINHA PODEM SER UTILIZADAS CONTRA POMBOS, GATOS E RATOS, AMEAÇAS CONSTANTES À INTEGRIDADE DA BURGUESIA NACIONAL.

ARTIGO 8 - PARA SE MANTER DEVIDAMENTE CADASTRADA, TODA ARMA DEVE TER ANUALMENTE RENOVADO SEU CHBSB COM AO MENOS UM HOMICÍDIO DOLOSO.

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terça-feira, setembro 06, 2005

O samba de terreiro

A primeira escola de samba surgiu no Estácio de Sá em 1929. Foi A Deixa Falar, fundada por Ismael Silva, Alcebídes Barcellos entre outros. Nesta época, já existiam outros agrupamentos, mas estes não eram organizados. O nome “escola de samba” surgiu no Estácio porque este pessoal (que fez do samba sincopado e deu a ele as características que conhecemos hoje) eram os professores do samba, os mestres, assim como na Escola Normal do Rio de Janeiro (também situada no Estácio) saíam professores. Eram eles os professores, a turma que foi precursora do samba.

Existe até um samba (A primeira escola) de Pereira Matos e Joel de Almeida que comprova isso: “A primeira escola de samba surgiu no Estácio da Sá/ Eu digo isso e afirmo, e posso provar/ Porque existiam naquele tempo, os professores do lugar...” O próprio Cartola de Mangueira tirava o chapéu para os professores.

Nos anos 30, as escolas desfilavam cantando sambas quaisquer (só a primeira parte) e os melhores versadores improvisavam na segunda parte. Estes sambas saíam do terreiro das escolas (hoje, quadra). O samba de terreiro era, portanto, o que dava sustentação a escola de samba. Era praticado durante todo o ano e em fevereiro saía para a Praça 11 (local dos desfiles).

Este samba escolhido não tinha nada a ver com o enredo. Por exemplo: o desfile a Mangueira tinha um tema, todos iam fantasiados neste mote mas o samba era um samba de amor. Paulo da Portela, fundador da famosa agremiação de Oswaldo Cruz, foi o primeiro a cantar um samba que tinha relação com o enredo. Pelos idos de 30, ele cantou um samba assim: “Vou começar a aula perante a comissão, muita atenção que eu quero ver se diplomá-los posso/ Salve o ‘fessor’, dá nota a eles senhor/ Quatorze com dois doze, noves fora tudo é nosso”. Na pista, os portelenses iam vestidos de aluno...

Este formato de samba enredo (usando os sambas de terreiro no desfile) acabou quando Getúlio Vargas baixou uma norma obrigando os sambas enredo a terem uma temática histórica. Aí o samba de terreiro ficou restrito ao próprio terreiro e deixou de ser cantado em fevereiro. Nesta mesma época, Vargas passou a censurar os sambas com a temática da malandragem. Surgiu, então, o ‘malandro regenerado’.

Com o passar dos anos, os sambas de terreiro começaram a tocar nas rádios e serem gravados. Aí surgiu uma contradição: ao mesmo tempo que profissionalizava compositores, a ida destes sambistas para o rádio e para o disco desvirtuava o ritual das escolas. Já nos anos 30, Zé com Fome (depois Zé da Zilda), sambista de Mangueira, foi proibido de cantar um samba seu porque estava tocando nas rádios.

Porém, enquanto as escolas preservaram suas características, o samba de terreiro foi preservado (mesmo tendo virado samba de quadra). A partir do momento, entretanto, em que as escolas viraram “Super Escolas S.A.” e os sambistas perderam seus espaços dentro de casa, o samba de terreiro desapareceu. Aluízio Machado e Beto sem Braço cantaram em 1982: “Super escolas de samba S.A./ Super alegorias/ Escondendo gente bamba/ Que covardia”.

Seu Jair do Cavaquinho, 85 anos, fundador e sócio número 1 da Portela: “O samba de terreiro não existe mais. Os jovens da escola não tem mais o espírito que nós tínhamos. Eles só querem saber de fazer um samba para gravar e ganhar dinheiro”.

Cartola e Carlos Cachaça, dois dos maiores nomes do samba e que fizeram muitos sambas para a Mangueira desfilar, viram com muita tristeza a deturpação do samba (tanto na quadra como na avenida). Um samba enredo derrotado deles, “Tempos Idos”, já falava: “... e muito bem representado com inspiração de geniais artistas, o nosso samba, humilde samba, foi de conquistas em conquistas/... já não pertence mais à Praça, já não é samba de terreiro, vitorioso ele partiu para o estrangeiro...”

Hoje em dia, o samba de terreiro sobrevive nas rodas de samba. Em algumas quadras de escola, em bares, em quintais...

segunda-feira, julho 04, 2005

E o torcedor sofre...


Mesmo sendo santista, domingo eu estive no Morumbi comprando um ingresso para final da Libertadores. Era um favor (e que favor!!) que eu estava fazendo para um amigo meu. Chegando lá, às 11 da manhã, encontrei uma fila imensa que não andava e um tumulto generalizado nos guichês.

Os malandros e os cambistas furavam fila sob a vista grossa da polícia. Quem estava na fila tinha que ficar penando horas e horas sob o sol escaldante. E quando a fila andava, era uns três passos. Um tormento.

Quem chegava cedo e pegava fila se dava mal. Quem chegava tarde e furava fila se dava bem. E a polícia não fazia nada. Viam os cambistas agirem e nada... Viam gente furando fila e nada... Não sei nem para que eles estavam lá.

Depois de oito horas na fila, já de noite, cheguei ao guichê. Nesta hora, os policias agiam com firmeza para
organizar a fila. Não sei porque não fizeram antes. Tinha 25 contos para comprar uma meia entrada. Não tinha mais ingresso. Fiquei lá mais uma hora até surgir, do nada, novas meias-entradas. Peguei uma e fui embora.

Os cambistas faziam a festa. Antes mesmo dos ingressos começarem a ser vendidos, eles já tinham muitos na mão. A diretoria do São Paulo (timinho safado) também é muito espertona. Põe um ingresso a preços abusivos. Preços absurdos. Um trabalhador que ganha um salário de trezentos reais vai pagar cinquentão por um ingresso?

É sempre assim: todos se dão bem e o torcedor paga o pato.

quinta-feira, junho 30, 2005

E Robinho vai embora...

Só no Brasil mesmo que acontece isso. O melhor jogador de futebol que atua no Brasil vai para a Europa porque aqui ele não tem segurança. Só no Brasil um ídolo das crianças tem a mãe seqüestrada e o pai ameaçado. O Brasil é um país de medíocres, e o lugar de um fora-de-série só pode ser a Europa

Robinho brilhou com a camisa do Santos. Levantou a auto-estima da torcida, conquistou títulos, cativou novos torcedores, foi um craque brasileiro que atuava nos gramados tupiniquins. E como era importante, não apenas para o Santos como para o futebol brasileiro em geral, um craque que atuasse no Brasil e não lá fora.
O Brasil é como uma grande várzea. Os jogadores surgem com o talento que só os brasileiros têm, jogam por amor até aparecer uma bolada de verdinhas. Aí eles vão embora, nem que seja para ir para Ucrânia, Kuait, Iêmen...

Robinho foi um fenômeno no Brasil. Assim como Pelé, cansou de bater no Corinthians, sua presa favorita. Pedalou, chapelou, fuzilou goleiros adversários... E agora vai para o Real Madrid... Só acreditei que ele ia
embora quando ouvi as palavras de sua própria boca.

Robinho tem tudo para arrebentar ma Europa e ser o melhor do mundo. Sua carreira será vitoriosa. Mas como será o futuro do alvinegro da Vila Belmiro? Novo jejum? Espero que não. Que o Santos trilhe o caminho vitorioso que aquela geração de 2002 recomeçou.

Chora, Argentina!!


Brasil e Argentina já cansaram de se enfrentar em jogos decisivos, mas nunca tinham disputado a final de um campeonato chancelado pela FIFA. Nunca tinham disputado um título fora da América. Até ontem. Como sempre, o Brasil fez história.

A rivalidade que existe entre nós e nossos 'hermanos' nunca esteve tão acirrada. Com um time reserva, batemos os rivais e faturamos a Copa América. Isso não foi nada bom para o orgulho deles. Levantaram o nariz e esperaram a revanche. Como nas Eliminatórias tudo ficou na igualdade, restou a Copa das Confederações.

O detalhe é que a Argentina se classificou de 'lambuja' para este torneio. O Brasil foi campeão mundial e sul-americano, e a Argentina ocupou uma vaga por ter sido vice da América. Só deles terem ido para a Alemanha já foi uma conquista.

Na dia 29 de junho de 2005, uma quarta-feira, as duas seleções se enfileiraram no gramado impecável do moderno estádio de Frankfurt. O Brasil vinha sem Cafu, Roberto Carlos e Ronaldo. A Argentina tinha seus desfalques, mas nenhum deles chegavam ao nível dos nossos craques.

Com dezesseis minutos, o Brasil já havia dado dois chutes de fora da área. A Argentina ainda não tinha feito nada. Os chutes de Adriano e Kaká tiveram endereço certo: o barbante. O jogo que era para ser duríssimo estava uma moleza.

Começa o segundo tempo, Cicinho está impecável nos cruzamentos. Ele joga duas vezes a bola na área. Ronaldinho e Adriano estavam lá para conferir: 4 x 0. Robinho ainda havia disparado uma bomba na trave. Que humilhação! Para não ficar tão feio, Aimar descontou. E o jogo foi caminhando para o fim.

Fim de jogo. Os jogadores começam a armar o pagode no gramado. Com vocês Robinho do Pandeiro, Maicon do Rebolo e Ronaldinho Tamborim... Os argentinos só olhavam. Será que eles iriam armar um tango no gramado se tivessem ganho?

Ronaldinho levanta a taça. É a conquista da tríplice coroa: Copa do Mundo, Copa América e Copa das Confederações. Para a Argentina sobrou os campeonatos juniores, sub-23, e por aí vai. O pior é que eles não aprendem nunca pois quando viram profissionais só tomam fumo.

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Brasil e Argentina ainda se enfrentaram duas vezes esta semana. Na terça, os juniores argentinos derrotaram os nossos por 2 x 1 no Mundial da Holanda (com Bobô e Tardelli fica difícil). Na quarta a noite, a equipe do São Paulo derrotou o River Plate em pleno Monumental de Nuñez e conseguiu uma brilhante classificação para a final da Libertadores.

quarta-feira, junho 29, 2005

A preciosa mercadoria chamada sexo


Assistimos, hoje, a uma grande banalização do sexo. Tudo o que antes o envolvia, como amor, relações familiares, fidelidade e comprometimento, perdeu o valor. Hoje o sexo está independente de tudo isso. O sexo tornou-se uma mercadoria.

Com a crise dos valores morais ocidentais, ele passou a ter outra dimensão e outra importância. Passou a mostrar quem é quem. Se você tem uma vida sexualmente ativa, você é bom, você pode tudo. Porém, se você não tem uma vida sexual, você não pertence ao círculo dos ‘bacanas’. O sexo perdeu o seu sentido místico de união amorosa e passou a ser um mero instrumento de prazer.

Hoje em dia, tudo está relacionado a ele. Para se vender cerveja, é necessário colocar umas loiras na propaganda; para promover algum evento, utiliza-se uma linda mulher (mesmo que seja burra como um porta). Assim funciona o mundo. O sexo se banalizou. Décadas atrás, o que imperava era a moral católica. A família era uma instituição sagrada. Com o mundo caótico de hoje, cada vez mais individualista, esta moral já não tem tanto peso. Nem a família.

Nesta era capitalista, cada um tem de garantir o seu. Com o sexo não foi diferente. Todos buscam prazer. Afinal, como agüentar um mundo tão desigual, tão cheio de artimanhas?

Esse aspecto mercadológico permeia tudo. O sexo não só tornou-se uma mercadoria, como já é, há tempos, uma indústria. A prostituição gera, desde tempos imemoriais, muito dinheiro em todos os rincões do mundo. Além da ‘profissão mais antiga do mundo’, a pornografia é um ramo que gera muito, mas muito dinheiro.

O sexo já tinha este caráter ‘vendável’ antes. A diferença é que hoje ele não só é ‘vendável’, é trivial. Pornografia sempre existiu, mulher pelada na TV de domingo a tarde, não.

O cúmulo desta banalização sexual são as meninas de 5 ou 6 anos que imitam a Carla Perez no programa do Gugu. O que será destas meninas? O que será desta sociedade?