sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Vida

O sol resplandece no céu. As árvores, poucas, mas lindas, balançam suas folhas com a doce brisa que sopra no ar. Recostados numa mureta, dois amantes se beijam. É um beijo sincero, apaixonado.

As andorinhas voam em bando. Sinal de chuva. Que cai, apesar do sol presente. Um arco-íris invade a paisagem.

O pai chega em casa depois de um árduo, mas prazeroso, dia de trabalho. Sua filha pula em seus braços e o beija por um longo minuto. Depois, eles brincam muito. A mãe, feliz, só os observa.

Do outro lado da rua, quatro amigos tomam uma cervejinha. Discutem futebol, contam piadas, falam de mulher. Um deles está apaixonado pela garota que conhecera na véspera. Todos brincam com a paixão do amigo. O bom-humor impera.

A criança chuta a bola. É gol. “Manhê, fiz sete gols hoje!!”. A outra criança bate bafo com seus primos. Ele é o melhor e “rapela” todo mundo. Que alegria!

Ao cair a noite, os boêmios saem à rua. Muitos trabalham de dia. Dormem pouco, mas aproveitam a noite. Outros, nem isso, vivem à noite (e, em alguns casos, da noite). Um chega com o cavaco, o outro com o pandeiro. Logo, estão cantando, felizes da vida. “Garçom, desce mais uma!”.

O carnaval está aí. Gente que sofre o ano todo será rei por três dias. Na quarta-feira, tudo acaba. Mas a lembrança segue por todo o ano.

Um sorriso. É o suficiente para alegrar quem, por algum momento, esteve triste.

Risos, sempre sinceros, nunca sarcásticos, irônicos. Choros, sempre de emoção e alegria, nunca de dor. Solidariedade sempre na boa intenção, nunca por interesse. Amor, em todas as instâncias da vida.

Não sobreviva, viva...

Sobrevida

A cratera do metrô engole a lotação, a chuva ácida alagou a cidade, o prefeito xingou o cidadão de vagabundo, os jogos de futebol continuam a começar às 10 da noite, o céu da cidade é cinza e seus prédios também, de tanta sujeira.

O calor sufoca e nem temos praia para nos refrescarmos, a bateria de escola de samba não toca mais samba, o pedestre não atravessa a rua sem ser quase atropelado, as modelos anoréxicas morrem por culpa do padrão de beleza magérrimo que é imposto à elas. Imposto, aliás, que não pára de subir.

A juventude volta à idade das pedras nos primeiros dias de aula nas faculdades. Trote: um bando de babacas com problemas de auto-afirmação pegando pesado com um bando de trouxas que se submetem à humilhação. Nada muda nos quatro anos seguintes: o aluno sai especializado em bebedeiras, festas e futilidades.

Bolivianos já assaltam os paulistanos. Até mulher grávida é alvo. Daqui a pouco, vão entrar para o PCC. A polícia é do mesmo nível: malvada, suja, inescrupulosa. Vivemos no meio de gente mal-intencionada. Confie em seus amigos e em mais ninguém. Ninguém vale o prato que come neste mundo cão.

Os carros poluem. Nossos rios estão sujos e nossos riachos, encanados. Encanado também está o trabalhador, que só se fode na mão do patrão. O empregado mal consegue pagar suas contas. O patrão não esquenta a cabeça. Está passando férias na Costa Brava, Espanha, mesmo lugar onde Cicarelli fez suas travessuras.

Um motoboy tira uma fina de uma senhora, que xinga. Ao seu lado, uma mulher com uma criança no colo quase cai para trás, de susto. Na esquina adiante, cai uma viga, de um prédio em construção, na cabeça de uma criança. Morte, fatalidade. Para o governo é bom, um a menos para alimentar, para dar educação, saúde... Na verdade, se a criança não morresse, iria dar no mesmo: ficaria sem as condições básicas de sobrevivência do mesmo jeito.

Quem não busca a vida, quem não busca viver a vida, de fato, apenas sobreviverá. Neste cenário caótico aqui ilustrado. Agora, se você quiser viver...