quarta-feira, julho 13, 2005

Você se vende...


Você vive rastejando atrás do dinheiro
Se vendendo para conseguir ter mais e mais
E quando consegue, seus olhos brilham de alegria
Comprar te proporciona um sentimento tão bom, não?
Como é gratificante ter a carteira forrada de dinheiro para poder gastar a vontade...
Pode desfilar com um carrão e dar festas maravilhosas em sua mansão
Pena que tem tanto medo da sociedade que te cerca
Muros altos com cerca eletrificada te protegem de invasores
Vidros blindados servem para que trombadinhas não se aproximem de você
Afinal, você quer distância desta gentinha, não é mesmo?
Essa gente não faz parte do seu universo
A não ser quando são seus empregados, submetidos a você
No fundo, você tem uma terrível decepção por não ter nascido na época da escravidão
Ah, que bom seria poder ordenar a vontade
Mas hoje você tem medo dos marginais, herdeiros do peso da escravidão
Gente que não tem nada a ganhar e nada a perder
Gente que não ganha em um ano o que você gasta naquele relógio
E você acha bonito viver neste luxo, nesta ostentação
Conseguiu chegar ao alto da fama
Se vendeu só um pouquinho? Quanto?
O suficiente para se enterrar na lama
No fundo você não passa de uma prostituta
Daqueles que se vendem sem o menor pudor
Afinal, o dinheiro que entra apaga qualquer dilema moral, não?
Apaga tudo
E é muito fácil apagar
Basta comprar, comprar e comprar
Com este dinheiro sujo você compra roupas, flores e perfume para sua mulher interesseira
Compra terno, caviar, uísque 18 anos, skank, cocaína pura, direto da Bolívia
Pra que se importar com a pobreza, com a fome?
Elas estão longe, do outro lado do muro
Como é nojento ver pessoas como você
Cheio de cifrão nos olhos, consegue enxergar dinheiro em tudo
Por causa de suas mordomias, muitos padecem
Derrube os muros, abra os vidros de seu carro
Dê a cara para bater, pare de roubar milhões por baixo do pano
Encare frente a frente a sociedade seu porco capitalista
E aí eu quero ver se vai continuar com este sorriso sujo no rosto
Ou então continue assim
Fugindo, com medo, fingindo que é feliz

segunda-feira, julho 04, 2005

E o torcedor sofre...


Mesmo sendo santista, domingo eu estive no Morumbi comprando um ingresso para final da Libertadores. Era um favor (e que favor!!) que eu estava fazendo para um amigo meu. Chegando lá, às 11 da manhã, encontrei uma fila imensa que não andava e um tumulto generalizado nos guichês.

Os malandros e os cambistas furavam fila sob a vista grossa da polícia. Quem estava na fila tinha que ficar penando horas e horas sob o sol escaldante. E quando a fila andava, era uns três passos. Um tormento.

Quem chegava cedo e pegava fila se dava mal. Quem chegava tarde e furava fila se dava bem. E a polícia não fazia nada. Viam os cambistas agirem e nada... Viam gente furando fila e nada... Não sei nem para que eles estavam lá.

Depois de oito horas na fila, já de noite, cheguei ao guichê. Nesta hora, os policias agiam com firmeza para
organizar a fila. Não sei porque não fizeram antes. Tinha 25 contos para comprar uma meia entrada. Não tinha mais ingresso. Fiquei lá mais uma hora até surgir, do nada, novas meias-entradas. Peguei uma e fui embora.

Os cambistas faziam a festa. Antes mesmo dos ingressos começarem a ser vendidos, eles já tinham muitos na mão. A diretoria do São Paulo (timinho safado) também é muito espertona. Põe um ingresso a preços abusivos. Preços absurdos. Um trabalhador que ganha um salário de trezentos reais vai pagar cinquentão por um ingresso?

É sempre assim: todos se dão bem e o torcedor paga o pato.

sábado, julho 02, 2005

Saia deste pedestal

Quanta pobreza
Uma vida de incerteza
Sem nenhuma dignidade
Já a nobreza
Do alto de sua realeza
Nem sabe o que é humildade

Você que anda esbanjando
Olhando para todos com desdém
Desprezando e humilhando
Aquele que não tem nem um vintém
Saia deste pedestal
Não vê que assim só causa o mal?
Enquanto banquetes você come
Tem alguém morrendo de fome.

Se você tem pedras preciosas
Os miseráveis têm pedras de crack
Que são consumidas desesperadamente
Você fuma skank e bebe uísque escocês
Enquanto a criança na rua cheira cola
Pois não tem família e nem escola



Este poema não teria sido escrito nunca se eu não tivesse ouvido os sambas de protesto de Elton Medeiros e Mauro Duarte. Sou obrigado a reproduzir aqui a letra destes dois sambas.



Maioria sem nenhum

Uns com tanto
Outros tantos com algum
Mais a maioria sem nenhum

Esta história de falar em só fazer o bem
Não convence quando o efeito não vem
Porque somente as palavras não dão solução
Aos problemas de quem vive em tamanha aflição

Uns com tanto
Outros tantos com algum
Mais a maioria sem nenhum

Há muita gente neste mundo estendendo a mão
Implorando uma migalha de pão
Eis um conselho pra quem vive por aí a esbanjar:
Dividir para todo mundo melhorar



Lama

Pelo curto tempo que você sumiu
Nota-se aparentemente que você subiu
Mas o que eu soube a seu respeito
Me entristeceu, ouvi dizer
Que pra subir você desceu
Você desceu

Todo mundo quer subir
A concepção da vida admite
Ainda mais quando a subida
Tem o céu como limite

Por isso não adianta estar
No mais alto degrau da fama
Com a moral toda enterrada na lama

sexta-feira, julho 01, 2005

O nascimento de um samba


Um samba nascido assim
Sem começo nem fim
Na mesa de um bar
Sossegado, de papo pro ar
Você fala que vai para orgia
E que vai gozar da alegria
E que neste gostoso dia-dia
De viver na boemia,
É muito feliz
E que é a vida que sempre quis
Mas sente falta de um amor
Que acabe com esta dor
De um poeta sofredor
E escreve e canta
E com um samba encanta
Toda uma energia que emana
Toda uma vibração levanta
E a felicidade de sambar
E de na cadência levar uma doce melodia
Isto não é besteira
Este samba de primeira
Nascido nas asas da imaginação
Fluindo com muita rima
Vira uma obra-prima
Para nunca mais esquecer
Para sempre cantar e batucar
E sambar e vibrar com este momento
Em que um belo sentimento
Emanado por mim
Transformou esta inspiração
Em mais uma linda canção

Senhor, isto não é permitido!

Banco de praça sempre sugere uma descansada. Sentar debaixo de uma árvore, ler um livro, observar a paisagem e, eventualmente, dar uma deitadinha. Na pracinha do campus do Mackenzie, entretanto, isto não é muito possível.

Constantemente vigiado por bedéis que zelam pela segurança e pelos bons modos, é impossível deitar nos bancos do Mackenzie por cinco minutos sem ser abordado por um bedel. Namorar em paz, então, impossível. Uma perna de uma garota sobre o colo de um rapaz já é caracterizado como sexo explícito. E assim vão se passando os dias na pacata Universidade Mackenzie, um lugar imaculado de bondade e livre do mal.

Certa vez, estava eu sentado num banco, em frente a faculdade de Arquitetura, descansando da cansativa e estressante semana que havia passado. Aos poucos fui me esparramando no banco. Quando me deparei, estava totalmente deitado, admirando uma linda copa de jacarandá. Fechei os olhos e comecei a meditar na vida. Como ter uma semana mais tranqüila? Como relaxar para enfrentar as provações do cotidiano? Estava quase adormecendo quando alguém me cutucou: "Senhor, você não pode ficar deitado aí!".

Nesta hora, todas minhas boas energias que estavam sendo criadas em minha mente foram pelo ralo. Pensei em argumentar com a senhora bedel, mas desisti. Sabia que ela apenas cumpria ordens. Voltei a ficar sentado e ela voltou ao seu lugar de vigilante.

Quase caindo de cansaço, passei a observar as pessoas na praça. Reparei que o rapaz do banco ao lado estava tentando ficar com uma garota. "Faz tempo que quero sair com você..." E ficou xavecando uns quinze minutos. Quando finalmente conseguiu beijar a moça (por sinal, uma bela moça), seus corpos se envolveram numa só emoção.

Era um beijo de cinema, a paixão exalava no ar. E então... Eis que surge nossa simpática bedel. Ela cutuca o casal apaixonado e diz: "Senhores, não é permitido isso aqui no Mackenzie". O rapaz, abismado, responde: "Tudo bem, nós já estamos indo para o bar". E lá foram eles. Para um lugar não tão impregnado de bondade, onde os pecaminosos beijos são permitidos.